O Fantástico apresenta todos os detalhes da prisão, esta semana, de Paulo Cupertino, acusado de matar o ator Rafael Miguel e os pais dele em 2019, em São Paulo. Ele foi preso depois de quase três anos foragido e alegou inocência. Mas a polícia não tem dúvida.
“Eu não sou bandido, eu não sou assaltante de banco. Eu não sou nada disso”, disse Paulo Cupertino em audiência.
Não era um interrogatório. Era só para Paulo Cupertino dizer se tinha sido agredido ao ser preso no dia anterior. Ele disse que não e, chorando, aproveitou para alegar inocência.
“Não tem probabilidade de ter sido outra pessoa. Não (tem dúvida), porque a filha dele é a testemunha principal”, afirma Ivalda Aleixo, delegada da Divisão de Capturas.
Isabela Tibcherani, filha de Paulo Cupertino e principal testemunha contra ele no júri, afirma que viu o pai cometer o crime. Perguntada se está preparada para testemunhar contra o pai, ela diz: “Não. Mas eu estou disponível, estou disposta, e eu vou estar preparada quando precisar estar”.
Relembre o caso
O crime aconteceu em 9 de junho de 2019. Isabela, então com 18 anos, está em um carro com o namorado, o ator Rafael Miguel, e com os pais dele: João e Miriam. Segundo a acusação, quando chegam na casa onde Isabela morava com a mãe, na Zona Sul de São Paulo, Cupertino aparece e – na frente da filha – mata a tiros Rafael, João e Miriam.
Para a polícia e para o Ministério Público, Cupertino não concordava com o namoro de Isabela com o ator de 22 anos, que já durava 1 ano e meio.
“O pouco tempo em que ele esteve na minha vida foi o momento que eu me senti mais feliz”, diz Isabela sobre Rafael Miguel.
A delegada Ivalda Aleixo diz que Cupertino era obcecado por Isabela: “Ele tinha muito ciúmes da filha. Não é mais uma criança, né? Uma mulher. Uma mulher que ia tomar o rumo dela”.
“Ele não era uma pessoa que tinha algum tipo de coisa afetiva. Era uma possessão mesmo. Ele não me deixava viver, ele era extremamente controlador. Então, eu não tinha uma vida de fato até os meus 18 anos”, conta Isabela.
Logo depois do triplo assassinato, Paulo Cupertino fugiu com a ajuda de dois amigos. Segundo as investigações, primeiro ele passou por cidades paulistas: Sorocaba, Águas de São Pedro e Campinas. Depois, esteve em Mato Grosso do Sul – fronteira com o Paraguai – e seguiu para o Paraná, onde tirou documentos falsos, e voltou para Mato Grosso do Sul. Em Eldorado, chegou a trabalhar como caseiro em um sítio. Nessa época, Cupertino usava barba longa para não ser identificado.
Em Eldorado, o foragido mais procurado de São Paulo quase foi preso. Ele passou, então, a se esconder em Ponta Porã e, depois, no interior do Paraguai.
“Ele vai voltar por conta da família, a gente sempre falava isso. A gente tinha essa certeza que ele voltaria”, diz a delegada da Divisão de Capturas Ivalda Aleixo.
Paulo Cupertino era dono de um desmanche clandestino de veículos e chegou a ficar um ano preso, em 1993, acusado de participar de um roubo a um carro-forte.
Repórter: “Quando as pessoas te perguntam quem é seu pai, o que que você responde?”
Isabela Tibcherani: “Que eu não tenho pai. Sei lá, para mim seria bom que ele nem existisse. Meu maior objetivo desde então era me reerguer, conseguir trabalhar, tocar minha vida tranquilamente. Mas essa exposição toda me prejudicou bastante. Independente de eu ser inocente nessa situação, as empresas, acredito que não querem esse tipo de associação. Então acabam dispensando. Ainda existe um peso, né, que as pessoas colocam pelo fato de eu ser filha dele. Não é fácil ser filha de um assassino. Não é fácil carregar o peso de ter o nome de uma pessoa que cometeu um dos maiores crimes nacionais”.
Repórter: “O seu pai chegou a te procurar durante esse tempo em que ele ficou foragido?”
Isabela: “Nenhum momento”.
Quais foram os passos de Paulo Cupertino depois de se esconder no Paraguai? O Fantástico apurou que ele ia para São Paulo pelo menos desde o segundo semestre de 2021, usando nome falso e disfarces. Imagens exclusivas mostram que os disfarces de Cupertino incluíam bengala e chapéus, e ele sempre usava roupas de manga longa e máscara contra Covid. Também colocava lente de contato azul e pintava o cabelo e a barba. No dia 12 de maio, alguém fez uma denúncia anônima para a polícia.
“Fizemos um trabalho de investigação preliminar. Acreditamos que poderia ser ele devido as características e fomos para cima”, conta o delegado Wendel Souza e Silva.Dia 16 de maio, uma segunda-feira: era o fim de uma caçada de quase três anos.
“Embora não vá aparar nada do que aconteceu, não vá diminuir as dores, a pessoa que causou esse mal todo está preso agora e não vai sair impune. Isso meio que conforta, de alguma forma. É como se os pesos fossem gradativamente se aliviando na nossa vida, e eu tenho fé e desejo que não só para mim, mas que também para família do Rafael, que aos poucos as coisas voltem a se acalmar e que exista esse senso de justiça para tudo de ruim que aconteceu”, diz Isabela.
Cupertino está preso em uma cadeia na Zona Leste de São Paulo. Quando chegou, teve que tirar a barba e cortar o cabelo. Ele vai ficar isolado dos outros presos até junho.
Os advogados de Isabela vão pedir à Justiça que ela preste depoimento sem ficar frente a frente com o pai no dia do julgamento. A data ainda não foi marcada.
“A minha força vem de um lugar maior, e o meu desejo de viver ele é muito maior ainda. Eu tenho muita vontade de chegar nos lugares que eu sonho, de alcançar os meus objetivos e eu me vejo fazendo tudo isso, sabe? É isso que me motiva todos os dias”, afirma Isabela Tibcherani.
Fonte: G1