O Ceará já imunizou completamente, ou seja com duas doses (D2) ou dose única (DU), mais de 4,7 milhões de pessoas contra a Covid-19, o que representa quase 53% dos cearenses. No entanto, quando observadas separadamente as populações residentes no interior do Estado e na Região Metropolitana de Fortaleza, o índice apresenta disparidades. Enquanto na RMF há 56,19% de totalmente imunizados, no Interior são 49,45%. Menos da metade.
A porcentagem considera a população geral do Estado, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 9,2 milhões. Os imunizados com a D1 são 69,92% no Estado (quase de 6,5 milhões de pessoas).
A diferença entre Região Metropolitana e Interior também é notada com relação à primeira dose. Somando as 165 cidades interioranas – a RMF é composta por 19 municípios – o percentual de vacinados com a D1 contra o novo coronavírus é de 68%. Já na RMF, 72% a receberam.
No Interior, ainda conforme estimativa do IBGE, residem pouco mais de 5 milhões de cearenses e, nas 19 cidades da RMF, 4,1 milhões de habitantes.
Mas, o que, de fato, essa diferença representa? Pode-se afirmar que as estratégias adotadas pelas Secretarias Municipais da Saúde do Interior são menos eficientes em comparação com as da RMF? Há maior resistência na vacinação entre as pessoas que residem no Interior?
O Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems-CE) considera que os dados não estão “tão distantes” se comparados municípios dos interiores de outros Estados do Brasil.
O vice-presidente do Conselho, Rilson Andrade, pontua que “sempre há uma dificuldade maior quando se trata de alcançar por completo metas estabelecidas em termos de indicadores de saúde”.
Segundo ele, isso ocorre “por razões diversas, tais como dificuldades financeiras destes Municípios de contratação de equipes exclusivas para vacinação e digitação, como é mais comum nos grandes centros ou nas regiões metropolitanas, onde geralmente há um poder econômico maior que a maioria das cidades interioranas”.
Para Rilson, isto não significa que as cidades com menor índice de vacinação contra Covid-19 não tenham estratégias e agilidade na execução, e sim que elas encontram mais dificuldades que as demais: “Embora no Ceará a logística de distribuição seja um exemplo nacional, é óbvio que há um certo delay na relação de distribuição RMF x Interior”.
Já o médico infectologista Robério Leite destaca a importância de uma cobertura vacinal homogênea para garantir a saúde da maior parte da população. Conforme o especialista, a chance de uma pessoa vacinada se infectar com o vírus é cinco vezes menor do que a de uma pessoa não vacinada.
“Nós temos uma experiência com o sarampo, por exemplo, que apesar de uma cobertura vacinal de um estado ou de um País estar com um nível considerável, se existirem os bolsões isso expõe todo mundo para um possível retorno da doença. O ideal seria pelo menos 70%, com uma cobertura vacinal que permite a imunidade coletiva”, explica Robério.
É preciso que avance a vacinação em um bom ritmo e que todos fiquem seguros”
Robério Leite
Infectologista
Um dos fatores ainda elencado pelo vice-presidente do Cosems que pode explicar o atraso é a obrigatoriedade do cadastro digital: “Quanto mais interiorana for a região menos acesso às tecnologias digitais essa população terá e tal fato aumenta as dificuldades destes Municípios, que precisarão de suas equipes para atuarem também na busca dessas pessoas que não se cadastraram”, destacou.