O preço do leite longa vida acumula 19,4% de aumento nos supermercados nos últimos 30 dias, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Essa conta ficará ainda maior quando o novo preço do campo for incorporado pelas indústrias e chegar ao varejo.
Nas pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) o litro do leite deverá chegar a R$ 3,10 no campo neste mês, com alta de 15% em relação ao mês passado. Até junho, a alta real foi de 19% no ano.
O preço está nesse patamar devido à oferta, diz Natália Grigol, pesquisadora do Cepea. A produção de leite tem um ciclo de período longo, e o setor está vivendo agora os reflexos do passado.
Sem margens, os produtores pararam de investir e muitos saíram da atividade. O resultado foi uma redução drástica da oferta. Além desses fatores, a produção está no período de entressafra, quando as condições das pastagens se deterioram.
Com menos leite, os preços subiram e os produtores passaram a ter margens melhores, apesar de a demanda não estar nos melhores momentos devido à queda de renda dos consumidores.
Além da alta dos preços do leite no campo, os produtores estão com uma redução de custos, devido à queda no valor de comercialização dos grãos.
Pela primeira vez em 20 meses, a relação de troca de uma saca de milho por leite recuou para a casa dos 30 litros. No ano passado, eram 45. Mesmo no patamar atual, o custo ainda fica bem acima dos 25 litros de 2019.
Natália acredita que os preços de julho atingiram o pico no campo, mas não haverá uma queda acentuada nos próximos meses.
A oferta ainda é restrita e a demanda não deverá reagir muito, apesar do programa temporário de auxílio do governo.
O consumidor vai ter de distribuir o valor do auxílio entre muitos gastos. Só no café da manhã, o custo dos últimos 12 meses do leite subiu 37%; o do café, 77%, segundo a Fipe.
Para a pesquisadora, a redução dos efeitos desse choque de preços dependerá do fim da entressafra, em setembro, quando voltam as chuvas, da resposta da demanda e da continuidade da queda dos custos dos produtores. Desde maio, com a queda nos preços do milho, os custos sobem menos na produção.
Para Natália, esse cenário é constante em todos os países, uma vez que tudo está ligado às commodities. Grãos e combustíveis injetam custos no setor. Daí a dificuldade para o controle da inflação. Esses custos estão na base, diz ela.
A recuperação da produção no Brasil, mesmo com investimentos pontuais, é difícil porque a cadeia é desorganizada. Além disso, o setor não recebe os subsídios que produtores de outros países têm dos governos.
Uma das vantagens do Brasil, em relação aos produtores externos, é que a atividade leiteira brasileira consegue operar mesmo com poucos investimentos, segundo a pesquisadora.
O litro de leite no spot, mercado que as indústrias utilizam para adequar os estoques comprando de intermediários, chegou a R$ 4,54 em julho. Em maio estava em R$ 3,1, conforme dados corrigidos pela inflação pelo Cepea.
Leite A produção mundial vem caindo nos principias países produtores, à exceção da Argentina, onde houve crescimento de 1% neste ano, em relação ao anterior. Na Austrália, houve queda de 6%; na União Europeia, 1%; na Nova Zelândia, 6%; e nos Estados Unidos, 1%.
Leite 2 Os dados são do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), que não acredita em uma recuperação rápida da produção mundial, devido às condições quentes e secas na União Europeia.
Leite 3 Alguns países, como Nova Zelândia e Austrália, estão com melhoria na produção. Perda de lucratividade dos produtores argentinos e crescimento moderado nos EUA não permitirão, porém, avanço na oferta mundial.
Quedas As commodities agrícolas voltaram a cair nesta quinta-feira (21). Em Chicago, o primeiro contrato de soja fechou em US$ 14,19 por bushel (27,2 kg), com queda de 2,1% no dia.
Quedas 2 Na mesma Bolsa de Chicago, o milho recuou 2,8%; e o trigo, 1,4%. Em Nova York, o café caiu 1%; o açúcar, 1,7%; e o algodão, 1,4%.
Fonte: Folha de São Paulo