A enchente levou os fundos da casa do trabalhador rural Zaqueu Silva, em Itapé, no sul da Bahia. Ele e os vizinhos perceberam que o Rio Cachoeira estava mais alto, mas não acreditavam que a água pudesse subir tanto.
As ruas ainda estão cheias de entulho e restos de móveis que foram perdidos. De um ponto, consegue se ter uma noção da força da água e da altura que ela alcançou para causar a tragédia em Itapé. A água subiu pelo menos seis metros para chegar até o meio da parede das casas. O rio subiu pelo menos seis metros. Todas as casas na região estão condenadas; as famílias tiveram que sair. Embaixo, tinha um muro, que foi arrastado pela enchente e só restou esse pedaço.
A funcionária pública Erglei Pereira investiu na casa as economias da vida inteira. Agora, está com o imóvel condenado: “Eu construí minha casa com tanto carinho, tanta dedicação, e essa catástrofe elevou. É muito difícil perder e não ter para reconstruir”, lamenta.
Do alto, é possível ver a destruição provocada pela água em Dário Meira, no sul do estado. Os sete supermercados e a única farmácia estão fechados porque estragaram com a enchente.
No oeste da Bahia, algumas cidades ainda estão alagadas. Em Santa Maria da Vitória, o rio subiu e invadiu parte do centro.
A situação é tão difícil quanto em Angical, no extremo oeste, onde é mais fácil deslocar médicos até os pacientes do que esperar que eles consigam ir aos hospitais. No município, uma comunidade rural com 7 mil pessoas está isolada há cinco dias.
Em Manoel Vitorino, no sudoeste, uma tirolesa está sendo usada para levar doações a comunidades isoladas. Algumas rodovias federais e estaduais e estradas vicinais estão interditadas, dificultando a chegada da ajuda.
Dez estados e o Distrito Federal enviaram equipes dos bombeiros para ajudar no socorro aos moradores da Bahia. Ao todo, são 504 militares, além de agentes da Polícia Rodoviária Federal e das Forças Armadas.
Nesta quinta-feira (30), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ministro da Cidadania, João Roma, sobrevoaram o noroeste do estado.
“Não temos régua para medir o esforço, precisamos agora, sim, buscar a solidariedade de todos, governo federal, governos estadual, municipal e voluntários, que têm feito a diferença. Nossa população pede socorro e quem pede socorro não quer saber de onde está vindo a ajuda”, afirmou João Roma.
Na quarta-feira (29), o governo federal recusou a ajuda humanitária da Argentina. O país vizinho ofereceu enviar dez profissionais especializados nas áreas de água, saneamento, logística e apoio psicossocial para vítimas de desastres.
No ofício enviado à embaixada da Argentina, o Ministério das Relações Exteriores agradeceu a demonstração de solidariedade e disse “que a situação está sendo enfrentada com a mobilização interna de todos os recursos financeiros e de pessoal necessários para as ações de assistência à população afetada, os quais se têm mostrado, até este momento, suficientes” e que “a reserva de R$ 200 milhões para o enfrentamento da emergência permitirá o auxílio àquela população e a mitigação dos danos causados pelas enchentes”.
Por fim, o Itamaraty afirmou que: “na hipótese de agravamento da situação, requerendo-se necessidades suplementares de assistência, o governo brasileiro poderá vir a aceitar a oferta argentina de apoio”.
O presidente Jair Bolsonaro esteve na região atingida no começo dos temporais. Depois, viajou de férias. O presidente permanece em Santa Catarina, onde deve ficar até segunda-feira (3). Na manhã desta quinta-feira (30), visitou um parque de diversões na companhia da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e da filha, Laura.
Numa rede social, o presidente Bolsonaro disse que a ajuda oferecida pela Argentina não era necessária neste momento. O presidente disse: “O fraterno oferecimento argentino, porém muito caro para o Brasil, ocorre quando as Forças Armadas, em coordenação com a Defesa Civil, já estavam prestando aquele tipo de assistência à população afetada, inclusive com o apoio de três helicópteros da Marinha” e que “por essa razão, a avaliação foi de que a ajuda argentina não seria necessária naquele momento, mas poderá ser acionada oportunamente, em caso de agravamento das condições”.
Bolsonaro afirmou ainda: “O governo brasileiro está aberto a ajuda e doações internacionais” e informou que, na quarta-feira, “o Itamaraty aceitou doações da Agência de Cooperação do Japão (Jica). São barracas de acampamento, colchonetes, cobertores, lonas plásticas, galões plásticos e purificadores de água, que chegarão à Bahia por via aérea e/ou serão adquiridos no mercado brasileiro”.
O governador da Bahia, Rui Costa, do PT, disse, nesta quinta-feira, que vai aceitar a ajuda de qualquer país.
“Eu quero aqui me dirigir não só à Argentina. Recebi ligação da União Europeia querendo fazer ajuda. A Bahia aceita e receberá direto, sem precisa passar pela diplomacia brasileira, de qualquer ajuda, de qualquer país que queira enviar – Europa, Estados Unidos, China, Japão… Os baianos e os brasileiros que moram na Bahia precisam e nós aceitamos. Qualquer ajuda é muito bem-vinda para ajudar a socorrer e reerguer esse povo trabalhador que está sofrendo muito”, declarou.
A ativista sueca Greta Thunberg chamou a atenção para a Bahia. Ela publicou nesta quinta-feira (30) uma reportagem sobre a tragédia em uma rede social e escreveu a hashtag “SOS Bahia”.
Via: G1