Um ano depois de se lançar no cenário musical, Vannick Belchior tem herança artística e uma interpretação única da obra do pai, Belchior. A filha caçula, única dele nascida no Ceará, e que leva a potência na voz e o semblante semelhante ao do artista, lança seu primeiro EP “Das Coisas Que Aprendi Nos Discos”, nesta sexta-feira (12), nas plataformas digitais.
A realização presente nasceu de uma certeza bem mais antiga, quando ainda na infância Vannick já sonhava em ser cantora e seguir os passos do pai.
“A música sempre esteve no meu plano de sonhos. Quando eu era criança eu tinha certeza que iria ser cantora, mas até então era um sonho infantil. Hoje eu vejo que isso é realmente o meu caminho. Eu sabia que em algum momento eu iria encontrar a música na minha vida”, afirma.
A virada de chave aconteceu de uma forma inesperada: em um bar. A cearense ganhou o fascínio do maestro e arranjador Tarcísio Sardinha, falecido em abril deste ano, que a ouviu cantando numa roda de choro e disse: ‘já sei com quem vou cantar para matar a saudade de Belchior’. “Assim ficou definido que eu iria interpretar o repertório do meu pai”, comenta Vannick.
CONVIVÊNCIA COM BELCHIOR
Os pouco mais de dez anos de convivência com Belchior antes de ele sair de cena e entrar para uma reclusão, em 2009, foram de muita importância para Vannick. São das memórias desse período que ela buscou inspirações que hoje a impulsionam na recente carreira musical.
“Convivi com ele até os dez anos de idade, sou a filha caçula e a única cearense. Meu pai entrou para uma reclusão não apenas para a mídia, mas para a família, foi uma relação infantil, mas foi muito interessante pois sempre que ele vinha a Fortaleza eu ia para os shows dele. Olhava aquele semblante, ele cantando as músicas. Acredito que mesmo sendo pouco tempo de convivência eu aprendi do meu pai tudo o que eu precisava para seguir o caminho que estou seguindo agora, diz.
Responsável por composições que se tornaram clássicos da música brasileira, Belchior era mais lembrado nos últimos anos pelo mistério que rondava sua vida. O artista abandonou a carreira e passou quase dez anos vivendo recluso, sem aparições públicas e endereço conhecido.
O cantor e compositor cearense Belchior morreu aos 70 anos na madrugada do dia 30 de abril de 2017 em Santa Cruz do Sul (RS). A polícia informou na época que o artista morreu de causas naturais.
LANÇAMENTO DO EP
Após a partida de seu maestro Sardinha, surgiu uma nova parceria com o músico e produtor Lu D’Sosa. Foi dele a ideia de dar continuidade ao projeto do disco. “Sardinha passou o bastão para o Lu e ele me disse que eu precisa fazer meu disco. E assim fomos atrás de parceiros, músicos, banda e aconteceu”, comenta.
O trabalho cujo título é “Das Coisas Que Aprendi Nos Discos” reproduz um verso da letra de Como nossos pais (1976) e traz uma seleção de músicas do pai escolhidas a dedo pela jovem artista
No repertório entraram canções com as quais ela tem uma ligação afetiva e que traduzem sua essência. A deia do projeto é dar continuidade à criatividade e ao legado de Belchior, com uma pegada mais contemporânea. Entre as faixas que fazem parte estão “Como nossos pais”, “Sujeito de Sorte”, “Apenas Um Rapaz Latino Americano”, “Galos, Noites e Quintais”, “Paralelas”.
“Que as pessoas possam desfrutar porque foi tudo feito com muito carinho e respeito não só pelo meu pai, mas pelos admiradores dele.
Vannick acredita que o disco é uma forma de perpetuar a vida do pai, mantendo a sua essência, mas também imprimindo as marcas próprias da cantora.
“É como se os dois estivessem caminhando lado lado, meu sentimento é como se ele estivesse aqui, segurando minha mão e orientando no caminho sobre o que devo fazer, então eu mantenho ele vivo, pois é esse o meu intuito, até por conta da grandeza dele. Porque ele merece ter uma representante e eu mereço isso por considerar ser um preenchimento do que eu não pude viver com ele. O que foi a ausência, hoje é presença, o que foi dor, hoje é alegria. É assim que vejo hoje esse processo de ir me descobrindo artista”, completa.
COMPOSIÇÕES E PARCERIAS
Apesar de já ter começado a escrever canções, Vannick Belchior ainda não se considera uma compositora e diz que prefere focar no presente para, só no futuro, pensar em outros trabalhos autorais e parcerias.
“Eu tenho algumas letras, ainda não me considero uma compositora, isso precisa ser amadurecido. No futuro virão muitos frutos das minhas ideias, dos meus sentimentos. Mas nesse momento estou focando no meu aprendizado como intérprete e cantora. No decorrer das coisas, as parcerias vão surgindo e será muito gratificante”, diz.
Sobre as músicas inéditas de Belchior redescobertas em agosto de 2021 pelo jornalista e pesquisador Renato Vieira, Vannick preferiu deixar um ar de mistério, mas prometeu que o público não vai ficar sem apreciar as composições em breve.
“Essas músicas vão ser utilizadas no tempo certo da melhor forma. São músicas maravilhosas, que têm inclusive parcerias com Ednardo e Fagner, por exemplo. Então no momento certo a gente vai soltar aí essas músicas pro mundo”, finaliza
SERVIÇO
- Lançamento do EP “Das coisas que aprendi nos discos”, de Vannick Belchior
- Sexta-feira, 12 de agosto de 2022
- Plataformas digitais e YouTube da cantora