Os preços de materiais médico-hospitalares usados por hospitais gerais públicos em diferentes estados do país tiveram aumento de até 528% durante a pandemia. O valor de medicamentos também apresentou alta de até 410%, de 2020 para 2021, como o sedativo Midazolam (usado em intubações), cujo custo da ampola passou de R$ 2,22 para R$ 11,33.
Esses são os resultados da pesquisa “Estudo sobre o Impacto da Pandemia da Covid-19 nos Custos do Setor de Saúde”, realizada pelo Instituto Brasileiro das Organizações Sociais de Saúde (Ibross) em parceria com a consultoria GO Associados.
O levantamento contemplou dados de cerca de 50 hospitais gerais públicos do país que são administrados por Organizações Sociais de Saúde (OSS) filiadas à entidade. Os números foram coletados entre abril e maio deste ano, mas são referentes ao período de fevereiro de 2020, antes do início da pandemia, até abril de 2021 (no caso dos preços dos materiais hospitalares) e junho de 2021 (referente aos remédios).
Foram analisados os valores de 76 tipos de medicações e 45 materiais médico-hospitalares, como aventais, luvas, cateteres, máscaras descartáveis, luvas e seringas. No total, o estudo avaliou 66,5 mil compras de remédios e 36,1 mil de materiais
Além do sedativo Midazolam, outros medicamentos que tiveram maior variação nos preços foram o hemitartarato de norepinefrina (para controle de pressão e tratamento de parada cardíaca), que aumentou de R$ 1,80 para R$ 7,16 cada ampola, e o omeprazol (para tratamento de quadros gástricos), que passou de R$ 4,96 para R$ 18,44 o frasco.
Na média, o preço dos 76 tipos de medicamentos analisados apresentou aumento de 97,49% entre fevereiro de 2020 e junho de 2021. Já entre os materiais médico-hospitalares, a alta foi de 161,14%, entre fevereiro de 2020 e abril de 2021.
Entre os produtos, o custo das agulhas foi o que teve maior crescimento percentual de valor médio: de R$ 0,14 para R$ 0,88 a unidade. Os outros itens que tiveram maior variação nos preços foram as máscaras cirúrgicas, que passaram de R$ 4,70 para R$ 22,70 o pacote com 50 unidades, e as luvas para procedimentos, que aumentaram de R$ 0,17 para R$ 0,65 o par. Os três estão entre os 15 materiais que tiveram expressivo aumento na quantidade consumida pelos hospitais na pandemia.
A pesquisa aponta também que, embora a quantidade de medicamentos comprada pelos hospitais públicos tenha apresentado queda de demanda entre o final de 2020 e o início de 2021, o índice de preços não registrou redução proporcional no mesmo período.
“Nota-se que, por mais que os preços tenham caído, estes ainda se encontram bem elevados em relação aos patamares pré-pandêmicos. O índice agregado em março de 2022 mostrou que, no acumulado, os preços de medicamentos ainda se encontram 61,75% maiores em relação a janeiro de 2018”, diz o relatório do estudo.
Uma das explicações para a alta dos preços é a desvalorização do real, já que muitos dos insumos são importados. O aumento da demanda de itens utilizados no tratamento da Covid-19 é outro ponto destacado no estudo.
Para o médico sanitarista e secretário-geral do Ibross, Renilson Rehem, a pandemia “escancarou a forte dependência do Brasil em relação a produtos importados”. “Além de expor o alto risco de desabastecimento de medicamentos e insumos usados nos serviços de saúde, especialmente em períodos de crise”, diz ele.
O presidente do Ibross, Flávio Deulefeu, tem opinião semelhante. “Mesmo com a redução no número de internações por Covid-19 em relação aos períodos mais críticos da pandemia, muitos itens adquiridos pelos hospitais seguem com preços em patamares muito elevados, sem diminuição proporcional dos valores praticados. É um cenário muito preocupante do ‘custo saúde’ no Brasil”, completa ele.
A pesquisa propõe ainda medidas para evitar que esse tipo de situação volte a ocorrer, como o incentivo à produção de insumos no Brasil, investimentos no setor de saúde e a criação de estoques públicos de medicamentos e materiais hospitalares para atendimento tanto da rede pública quanto privada durante crises como a pandemia.
Fonte: Folha de São Paulo