Começaram no último dia 8 de agosto a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e a Campanha Nacional de Multivacinação, com a missão de reverter os baixíssimos índices de cobertura vacinal no país. A uma semana do fim, no entanto, os resultados são pífios.
A campanha de pólio buscava imunizar, no mínimo, 11,5 milhões de crianças menores de 5 anos. Dados do Ministério da Saúde revelam, porém que até o momento 3,8 milhões foram vacinadas, ou seja, o esforço bateu só um terço da meta.
O Brasil é considerado livre da pólio desde 1994. No entanto, os especialistas estão em alerta com a baixa cobertura vacinal contra a doença — apenas 69,4% das crianças foram protegidas em 2021— em meio ao ressurgimento de casos no mundo.
O ministério apura um caso suspeito de poliomielite, em Rorainópolis, no sul de Roraima. Trata-se de uma garota de 14 anos, com quadro de paralisia flácida aguda — síndrome que pode ter outros diagnósticos.
Em junho, um jovem de 20 anos de Nova York foi diagnosticado com o vírus, sugerindo contágio já disseminado na população. A pólio também fez vítimas recentes na Ucrânia, em Israel e noutros países. O vírus foi detectado em amostras de esgoto londrino, nova-iorquino e de outras cidades.
A meta é imunizar pelo menos 95% do público-alvo da campanha. Segundo o ministério, a última vez que a cobertura vacinal contra a paralisia infantil superou esse percentual foi em 2015. De lá para cá, os índices só caíram.
Para a professora da Universidade Federal do Espírito Santo Ethel Maciel, pós-doutora em epidemiologia pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, diante da seriedade da situação, era preciso uma divulgação maciça da vacinação:
— Foi uma campanha secreta, ninguém sabia que estava acontecendo. Não se ouve falar. As pessoas não estão procurando o serviço. Foi um fiasco, é muito triste
Vale lembrar que ainda há uma semana para a população brasileira tentar reverter essa situação.
Multivacinação
Em relação às outras vacinas, os dados divulgados pelo Ministério da Saúde são menos conclusivos porque não havia uma meta clara para cada imunizante. No entanto, pelo número de pessoas vacinadas e doses aplicadas, é evidente que o cenário é semelhante.
Até ontem, haviam sido aplicadas 1.032.891 doses, em 537 mil indivíduos — o público-alvo são os menores de 15 anos.
Entre os 18 imunizantes oferecidos estão a tríplice viral — contra caxumba, rubéola e sarampo —, que teve apenas 75 mil doses aplicadas; febre amarela (com 96 mil imunizações) e a pentavalente — que garante proteção contra a difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo B— com 102 mil doses aplicadas.
— A cobertura está muito baixa e, se levarmos em conta dados de que 70% das crianças estão em atraso com as vacinas, teríamos que ter tido muito mais doses aplicadas para recuperar esse atraso — afirma o pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
O estado com mais doses aplicadas foi São Paulo (139 mil), seguido por Minas Gerais (110 mil), Bahia (86 mil), Pernambuco (68 mil) e Alagoas (67 mil). O Rio aplicou apenas 55 mil doses. De toda forma, todas as unidades federativas tiveram adesão muito aquém do necessário.
Os dados de ambas as campanhas, pólio e multivacinação, são parciais porque só terminam no dia 9 e, também, a transmissão das informações segue ocorrendo ainda muito tempo depois. O resultado oficial da vacinação só deve sair em março do ano que vem.
O infectologista e pediatra Filipe da Veiga ressalta a demora no processamento de dados de imunização, feito à mão em muitos municípios.
— O dado não entra, não é atualizado. O sistema de comunicação é falho, pode ser que a situação seja um pouco melhor — avalia.
Sarampo
O sarampo é outra doença da qual o Brasil foi considerado livre e, após um surto em 2018, segue com dezenas de casos espalhados.
A Campanha de Seguimento contra o Sarampo, realizada anteriormente, já havia vacinado mais de 8 milhões de pessoas. A cobertura entre crianças era, então de 49,3%.
Diante disso, o Ministério da Saúde lançou ontem um plano de enfrentamento para eliminar surtos de sarampo em quatro estados até novembro de 2023.
Amapá, Pará, Rio de Janeiro e São Paulo já registram 44 diagnósticos neste ano. Dados do último boletim epidemiológico apontam que o Amapá lidera o número de casos da doença no país, com 32 pacientes, o que representa 72,7% do total de diagnósticos. Já São Paulo tem oito diagnósticos. Rio de Janeiro e Pará confirma duas infecções cada. Outros 295 casos suspeitos seguem em investigação. O Brasil não registrou mortes em 2022.
Fonte: O Globo