Os dois anos iniciais da pandemia causaram a queda da doação de órgãos no Ceará, mas o quadro começou a mudar: entre janeiro e julho deste ano, 133 doações efetivas foram feitas, ante as 83 do igual período de 2020.
O aumento de 60%, no entanto, poderia ser maior, já que em média 3 a cada 10 famílias recusam conceder os órgãos dos pacientes falecidos.
Os dados de doações e transplantes são da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), disponíveis na plataforma IntegraSUS. Já o balanço das entrevistas para doação é da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).
Entre janeiro e junho deste ano, foram realizadas 266 abordagens com famílias de potenciais doadores de órgãos, mas 85 (32%) recusaram o pedido. Esse é um dos fatores ligados à espera angustiante de quem precisa de um órgão para sobreviver.
“É bem verdade que a Covid impactou muito até porque havia uma prioridade das pessoas que tinham de ser assistidas, mas hoje com isso controlado a gente pede que voltem a doar”, analisa Elodie Hyppolito, médica hepatologista e coordenadora da campanha Doe de Coração 2022.
O Ceará registrou 1.061 pacientes ativos na fila de espera para transplante de órgãos, sendo a maior demanda, com 908 casos, por rim. Na sequência, vem fígado (124) e pulmão (7), como detalham os dados da ABTO.
O Estado, contextualiza Elodie, já ocupou a 2ª colocação no maior número de doações de órgãos, mas caiu para a 5ª posição esse ano.
“Tivemos uma pequena recuperação agora, mas estamos longe dos números desejados. O ideal é que a gente tenha um índice de doação de 40 doadores por 100 mil habitantes para atender a demanda de necessidade e evitar a fila de transplante”, detalha.
CONFIRA OS ESTADOS COM MAIOR NÚMERO DE DOADORES EFETIVOS EM 2022, CONFORME A ABTO
- São Paulo: 453
- Paraná: 230
- Rio de Janeiro: 173
- Santa Catarina: 139
- Ceará: 115
- Minas Gerais: 115
- Rio Grande do Sul: 96
- Pernambuco: 65
O Estado, inclusive, contribui para o transplante de pacientes vindos de outros lugares do País, como acrescenta Elodie.
“O Ceará é referência nos transplantes de órgãos, especialmente, no transplante de fígado e isso se deve à generosidade do povo cearense. Hoje, 60% dos pacientes transplantados no Estado vêm de outros lugares do Nordeste e do Norte”, completa.
DOAÇÃO DE ÓRGÃOS DEVOLVE VIDA A PACIENTES
Cerca de 7 pessoas podem ser beneficiadas com córneas, rins, pulmões, coração e fígado – por exemplo – de um mesmo doador. Mas, no luto, muitas famílias não conseguem pesar o impacto positivo e optam por não ceder os órgãos, como observa Elodie.
Por isso, profissionais da saúde, pacientes e famílias buscam conscientizar a população e orientam que o desejo de doar órgãos seja comunicado. “Precisa apenas dizer para a família a vontade o que, normalmente, é respeitado no momento de muita dor”, completa.
- Doador vivo: Um dos rins, parte do fígado, parte da medula ou parte dos pulmões
- Doadores falecidos: Rins, coração, pulmão, pâncreas, fígado e intestino, córneas, válvulas, ossos, músculos, tendões, pele, cartilagem, medula óssea, sangue do cordão umbilical, veias e artérias.
POR QUE RECUSAM AO PEDIDO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS?
Em geral, o desconhecimento sobre o processo de doação de órgão e a relevância do ato para salvar a vida de outras pessoas é o ponto em comum entre as famílias que negam os pedidos.
Muitos temem, por exemplo, que a retirada dos órgãos aconteça com o paciente ainda vivo ou que o procedimento possa transfigurar a pessoa, como contextualiza Elodie. A legislação, no entanto, garante que o corpo seja entregue de forma adequada.
CAMPANHA DOE DE CORAÇÃO 2022
Esse ano acontece a 20ª campanha Doe de Coração, com lançamento no dia 5 de setembro -, iniciativa da Fundação Edson Queiroz, mantenedora da Universidade de Fortaleza, que desenvolve ações para informar, conscientizar e mobilizar as pessoas sobre a importância de ser doador de órgãos e tecidos.
Serão desenvolvidas atividades com a participação de profissionais da saúde para debates sobre os processos da doação de órgãos.
Fonte: Diário do Nordeste