Pesquisas eleitorais do Ipec e do Datafolha divulgadas na véspera da eleição apresentaram divergências com os resultados das urnas. O Jornal Nacional foi ouvir os institutos para que esclarecessem o que aconteceu.
A diferença entre o resultado das urnas e projeções dos institutos de pesquisa ficavam evidentes à medida que a apuração avançava. A corrida presidencial é um exemplo disso. Na última pesquisa Datafolha, divulgada no sábado (1º), Jair Bolsonaro, do PL, aparecia com 36% dos votos válidos. Pela margem de erro, poderia ter de 34% a 38%.
Já a pesquisa Ipec mostrava Bolsonaro com 37%. Pela margem de erro, ele teria de 35% a 39%. Nas urnas, Bolsonaro teve 43,2% dos votos, de quatro a cinco pontos acima da margem de erro máxima nas duas pesquisas.
Já Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, aparecia com 50% dos votos válidos no Datafolha divulgado na véspera da eleição. Pela margem de erro, tinha de 48% a 52%.
A pesquisa Ipec indicava Lula com 51% dos votos. Na margem de erro, teria entre 49% e 53%. Nas urnas, Lula conquistou 48,43% dos votos, dentro da margem do Datafolha, e um pouco fora da margem do Ipec.
No Datafolha da véspera da votação, Simone Tebet, do MDB, aparecia com 6% dos votos válidos. Na margem de erro, de 4% a 8%. E Ciro Gomes, do PDT, logo atrás, com 5%. Na margem, de 3% a 7%.
Já no Ipec, Tebet e Ciro Gomes apareceram com os mesmos 5% de votos válidos. Na margem de erro, de 3% a 7%.
Nas urnas, Tebet terminou com 4,16% dos votos, dentro da margem de erro indicada pelos dois institutos de pesquisa. Ciro Gomes teve pouco mais de 3% dos votos, também dentro da margem de erro dos dois institutos.
Os dois principais institutos de pesquisa do país têm uma explicação parecida para o que aconteceu. A própria divulgação das pesquisas indicando a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno pode ter feito com que os eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet , que votariam em Jair Bolsonaro em segundo turno, antecipassem suas escolhas para o primeiro. Ou seja, a informação fornecida pelas pesquisas ajudou os eleitores a fazerem suas escolhas na última hora.
Márcia Cavallari, diretora do ipec, explica como isso teria acontecido.
“A última pesquisa divulgada na véspera da eleição mostrava que o presidente Lula poderia ganhar a eleição no primeiro turno, e de fato ele ficou a 1,6% dos votos de ganhar no primeiro turno. O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, teve seis pontos a mais do que a pesquisa apontava, e analisando os resultados nós vemos que houve uma migração dos 3% de indecisos que ainda tínhamos na pesquisa na véspera da eleição e o índice do Ciro e da Simone que ficaram menores. Então, talvez com essa informação os eleitores tomaram uma ação estratégica de antecipar um possível voto no segundo turno neste primeiro para impedir que a eleição acabasse no primeiro turno”, diz.
A diretora do Datafolha, Luciana Chong, tem uma avaliação parecida.
“O que a gente viu na pesquisa de véspera foi um índice ainda de 13% de eleitores que declaravam que ainda poderia mudar o seu voto. E entre os eleitores de Ciro esse índice era de 41%, e entre os de Simone Tebet chegava a 37%. Então a pesquisa de véspera foi finalizada no sábado, por volta da hora do almoço, e dali até o domingo, o dia da eleição, a gente viu um movimento de eleitores que votavam no Ciro, Tebet, branco e nulo indo para o presidente Jair Bolsonaro. Então o voto útil que não aconteceu a favor de Lula, aconteceu a favor de Bolsonaro nessa reta final”, afirma.
Nos estados, as pesquisas também não conseguiram captar com precisão a disputa em primeiro turno. O Datafolha fez levantamentos em três estados. Acertou a ordem dos candidatos em dois, mas no Rio não apontou a definição em primeiro turno, e houve uma inversão entre o primeiro e o segundo colocados em São Paulo.
Já o Ipec pesquisou no Brasil todo. Em 21 unidades da federação, o instituto indicou quais seriam os primeiros colocados no primeiro turno, mas houve divergências em relação às margens de erro. Em quatro casos, houve inversão entre o primeiro e o segundo lugares.