Começa nesta quarta-feira (30) a Causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus Padre Cícero Romão Batista, principal ícone católico cearense e um dos mais importantes do Nordeste. É o início do processo para ele ser reconhecido como santo, caso os critérios exigidos pela Igreja sejam cumpridos.
A abertura acontece três meses após o anúncio da autorização do Vaticano para a causa, divulgada no dia 20 de agosto. A data também marca os 152 anos de ordenação presbiteral do Padre Cícero, conhecido entre os devotos como Patriarca de Juazeiro e padrinho da Nação Romeira.
Com o anúncio em agosto, padre Cícero recebeu o título de “servo de Deus”,primeiro passo para a canonização. Agora, começa oficialmente formalmente a fase diocesana do processo, que ficará a cargo de representantes da Diocese de Crato.
Serão designados membros do tribunal constituído para o acompanhamento desta primeira etapa e as comissões que colaborarão para a reunião das provas documentais e testemunhais da vida do sacerdote.
Não é definido um prazo para o resultado final. O processo, como um todo, é extenso e pode levar décadas porque exige investigação aprofundada da vida e obra dos religiosos. Ao longo da jornada à santidade, eles podem receber quatro “títulos”:
- Servo de Deus, quando a causa de canonização é iniciada;
- Venerável, quando acaba a investigação sobre vida e obra do religioso;
- Beato, quando há um milagre atribuído ao religioso ou ele morreu na condição de mártir;
- Santo, quando é comprovada a realização de um segundo milagre do beato.
O processo de canonização de Santa Dulce dos Pobres, freira baiana, por exemplo, demorou 19 anos. Ela se tornou serva de Deus em 2000; venerável em 2009; beata em 2010, e santa em 2019.
Antes dela, Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, o Frei Galvão, passou por um período mais longo. O processo de canonização teve início em 1938, mas só foi retomado em 1991. Foi declarado venerável em 1997, beatificado em 1998 e canonizado em 2007.
Apesar do processo “burocrático”, a santidade pode ir além de um reconhecimento oficial da Igreja Católica. O padre Abimael Francisco do Nascimento, professor da Faculdade Católica de Fortaleza, explica que a fé dos fiéis pode ganhar uma outra dimensão com tal reconhecimento, uma vez que outras demonstrações de crença podem ser realizadas.
“Hoje não se pode prestar culto ao Padre Cícero no sentido de colocá-lo no altar de uma igreja ou fazer um trabalho pastoral diretamente para ele, porque não tem reconhecimento canônico de santidade. O povo de Deus o declara Santo, mas a Igreja não”, contextualizou em entrevista ao Diário do Nordeste.
Prova disso são as romarias a Juazeiro do Norte, que se tornaram tradição e levam religiosos todos os anos para a cidade, cujo desenvolvimento político e econômico teve participação essencial do Padre Cícero.
QUEM FOI PADRE CÍCERO?
Cícero Romão Batista nasceu em 24 de março de 1844, no Crato, na região do Cariri. Aos 12 anos, fez um voto de castidade por influência da trajetória de São Francisco de Assis.
Em 1865, viajou para estudar em Fortaleza. Cinco anos depois, foi ordenado padre, em 30 de novembro de 1870, na antiga Catedral de Fortaleza, pelo primeiro Bispo da Diocese do Ceará, Dom Luís Antônio dos Santos.
Em 1871, Padre Cícero volta para o Crato. Visita a então Vila de Juazeiro, onde um ano depois passaria a ser o vigário da capela. Em julho de 1911, tornou-se prefeito da cidade agora emancipada.
Em 1º de março de 1889, ao dar a comunhão à beata Maria de Araújo, a hóstia teria se transformado em sangue, popularizando sua fama de santo. Padre Cícero morreu em 1934, aos 90 anos, rompido com o Vaticano por seu envolvimento com a política local.
Somente em 2015, o Vaticano atendeu ao pedido do bispo Dom Fernando Panico e reconciliou o padre Cícero com a Igreja, abrindo caminhos para a abertura do processo de beatificação do “santo popular”.
Seu corpo está sepultado no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, também em Juazeiro, e recebe centenas de milhares de visitantes todos os anos.
Fonte: Diário do Nordeste