A advogada Wanessa Kelly Pinheiro Lopes, presa no Ceará por suspeita de participar de grupo que movimentou R$ 45 milhões no tráfico de drogas, enviou R$ 311 mil para traficantes de três estados e uma empresa investigada de Roraima.
Wanessa foi capturada em Iguatu, a 362 km de Fortaleza, em 15 de março. No mesmo dia, outro suspeito de participar do esquema milionário que transportava cocaína da Bolívia para o Ceará foi capturado na cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, fronteira com a Bolívia.
O envolvimento da advogada foi descoberto a partir da apreensão do celular de Caio da Rocha Freire, preso em março de 2021 no Rio Grande do Norte, na companhia de um chefe de uma organização criminosa que coordenava ações da facção nos bairros Bonsucesso e João XXIII, em Fortaleza.
Após análise do aparelho, a polícia identificou indícios de movimentação financeira referente ao tráfico de drogas do proprietário do telefone para a conta de Helder Paes de Oliveira Júnior. O beneficiado seria fornecedor de entorpecentes, responsável por receber grandes quantias em dinheiro.
Os dados enviados junto ao Relatório de Inteligência Financeira ajudou a Polícia Civil a identificar a existência de vínculos financeiros entre Helder e 31 pessoas físicas e jurídicas residentes no Ceará, entre eles, a advogada Wanessa Kelly, que fez uma transferência para o investigado no valor de R$ 38.500.
Além do envio de dinheiro para Helder, a polícia também descobriu que Wanessa enviou quantias que somadas davam R$ 311 mil para quatro homens de Fortaleza, São Gonçalo (RJ) e Natal, e uma empresa de Boa Vista, em Roraima.
Depósitos feito pela advogada:
- R$ 38.500 para Helder Paes de Oliveira Júnior, suspeito de ser fornecedor de entorpecentes;
- R$ 28.000 para um morador de Fortaleza (CE);
- R$ 76.000 para um morador de Fortaleza (CE);
- R$ 66.000 para um homem de São Gonçalo (RJ);
- R$ 67.000 para um homem de Natal (RN) e;
- R$ 74.000 para uma empresa de Boa Vista (RR).
A empresa que recebeu dinheiro da advogada tem como atividade principal a “reparação e manutenção de equipamentos pessoais e domésticos”, com sede em Boa Vista e faturamento anual de R$4.907.170,84. Porém, a polícia constatou que entre 23/04/2020 e 16/11/2020 a pessoa jurídica movimentou mais de R$ 44 milhões.
Já sobre os homens que receberam as quantias, a investigação policial identificou movimentação financeira incompatível com a capacidade financeira dos suspeitos, além de indícios dos recursos estarem relacionados com o tráfico de entorpecentes.
Wanessa já havia sido investigada pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) por participação em uma facção. Na ocasião, a polícia extraiu dados do telefone de uma investigada em que constavam conversas relatando que a advogada recebia e enviava mensagens de interesse da organização criminosa entre os indivíduos reclusos e os que estão em liberdade.
“O conteúdo do Relatório de análise dos RIFs, aliado aos demais elementos informativos coletados permitem concluir pela existência de fortes indícios de que a investigada Wanessa Kelly esteja não apenas transmitindo mensagens de indivíduos integrantes da facção criminosa, mas também realizando movimentações financeiras relativas ao tráfico de drogas, no interesse da facção criminosa”, diz um trecho do documento.
Companheira de chefe de facção
A Polícia Civil ainda identificou que a advogada é registrada no Sistema Penitenciário como companheira de José Glauberto Teixeira do Nascimento, o “Gleissin”, “Amarelo” ou “Empresário”, um dos principais chefes de uma facção criminosa, atualmente preso em um presídio federal, visitando-o frequentemente.
“Gleissin” foi capturado em março de 2015, na companhia de outros dois homens, em Pernambuco. Na ocasião, a Polícia Federal apreendeu com o trio mais de 30 quilos de paste base de cocaína e R$ 58 mil em espécie. O suspeito já cumpria pena por um assalto a um carro-forte.
Ele também é suspeito de cometer assaltos, sequestros e tráfico de drogas, além de comandar rebeliões em presídios.
A polícia identificou que em outubro de 2022 Wanessa visitou “Gleissin pelo menos nove vezes na condição de companheira do detento.
Quando esteve no sistema penitenciário cearense, o companheiro da advogada participou de, ao menos, duas fugas e uma rebelião, o que motivou as autoridades a pedirem a sua transferência para um presídio federal de segurança máxima.
‘Operação Sarmat’
A captura da advogada fez parte da “Operação Sarmat”, que já bloqueou R$ 20 milhões em contas e apreendeu 14 veículos, documentos, computadores, HDs, armas, drogas, munições e aparelhos telefônicos.
Na ocasião, foram cumpridos 39 mandados de busca e apreensão, 39 bloqueios de contas bancárias, sequestro de bens, como automóveis e imóveis, além de dois mandados de prisão preventiva.
A ação contou com 90 policiais civis atuando tanto em Fortaleza quanto no interior, sendo coordenada pela Delegacia de Combate à Lavagem de Dinheiro (DCLD).