Originário das células da retina, o retinoblastoma é o tumor intraocular maligno primário mais comum em crianças, que pode acometer um olho (unilateral) ou ambos (bilateral), de acordo com a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP). Contudo, trata-se de um tipo raro de câncer, que afeta aproximadamente seis mil crianças no mundo por ano, ocorrendo igualmente em meninos e meninas e geralmente em indivíduos com menos de 5 anos de idade. Como é o caso dos 11 pacientes em tratamento no Centro Pediátrico do Câncer (CPC), unidade oncológica do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Destes, nove tiveram a doença identificada antes dos dois anos.
Segundo a oftalmologista especialista em Oncologia Ocular do CPC, Daiane Memória, na maioria das vezes, pais ou cuidadores são quem observam os primeiros sinais de alerta, pois o retinoblastoma costuma ocorrer, majoritariamente, em crianças menores de dois anos que não conseguem ainda referir as dificuldades que possam apresentar. “São os pais que percebem um brilho diferente, esbranquiçado, na pupila da criança, que é evidenciado em fotos com flash, mas pode ser visto mesmo sem o flash. Outro sinal de alerta é se o olho tem algum desvio, pois isso pode acontecer porque o tumor está crescendo e a criança não consegue ter fixação daquele olho, que acaba desviando”, detalha. Caso algum desses sinais sejam percebidos, a criança deve ser encaminhada para uma avaliação com oftalmologista.
Este foi o percurso da dona de casa Luzanira Kelly Silva, 32, com a pequena Neydla Kiara. “Minha filha tinha quatro meses de vida, quando percebi o brilho no olho, como se fosse um olho de gato e também o olhinho vesgo. Logo procurei um médico em um posto de saúde perto da minha casa para examinar, mas ele disse que não estava conseguindo centralizar o olho dela, o que já mostrava que alguma coisa estava errada, e nos mandou para o CPC”, relembra
Assim que o usuário chega ao Centro, é feita uma consulta com oncologista pediátrico e, se for confirmada a suspeita de retinoblastoma, o paciente é encaminhado para avaliação oftalmológica. Para fechar o diagnóstico, o oftalmologista faz o exame de fundo de olho, por meio do mapeamento de retina, pois nem sempre esses sinais vão indicar um tumor. Este procedimento deve ser feito com a pupila dilatada para que o médico consiga ver toda a retina, tanto na parte mais posterior, quanto como na região periférica, e identificar se há alguma lesão ou tumor. Normalmente, o exame é feito no centro cirúrgico, com sedação, para que o profissional possa examinar melhor.
“Quando identificamos um tumor pequeno, o tratamento pode ser quimioterapia ou laser. Se for um tumor grande, pode ser necessária a retirada do globo ocular. Por isso, é fundamental procurar um oftalmologista aos primeiros sinais. Quando o caso está muito avançado, o paciente pode já apresentar metástase, com invasão do nervo óptico ou outras estruturas do olho que vão dificultar o tratamento. Quanto antes o tumor for identificado, maior a possibilidade de tratamento e de cura da criança. Quando conseguimos eliminar o tumor, seja com quimioterapia, laser ou cirurgia, o índice de eficácia do tratamento e de cura do paciente com retinoblastoma é muito alto, cerca de 95%”, afirma a especialista Daiane Memória.
Esta foi a circunstância de Neydla Kiara, 11. No primeiro ano de vida, ela realizou 12 ciclos de quimioterapia para combater os tumores, mas hoje segue uma vida praticamente normal, tendo apenas um déficit na visão do olho direito. “Continuamos fazendo o acompanhamento de seis em seis meses com a doutora Daiane e, anualmente, no ambulatório do Hias, para a realização de exames de sangue, raio-X e tomografia. Sou muito grata aos profissionais maravilhosos do hospital por todo o cuidado com minha filha e por, hoje, ela estar bem. Isso talvez só tenha sido possível porque identificamos [a doença] muito no início. Por isso, prestem atenção nas crianças, em qualquer sinal e, mesmo sem sinais, levem ao oftalmologista para consultas preventivas, pois, identificando cedo, é possível a cura total da doença”, ensina Luzanira.
Ambulatório de retinoblastoma do Hias
Onze pacientes com retinoblastoma são acompanhados no CPC, unidade oncológica do Hias
O CPC possui, há 15 anos, um serviço de Oncologia Ocular, referência no Ceará para tratar esse tipo de tumor, que conta com um ambulatório de retinoblastoma, onde consultas, exames, procedimentos e cirurgias são realizados para o tratamento da doença. Crianças com suspeita de retinoblastoma têm seus atendimentos agendados sem fila de espera. Os pacientes contam, ainda, com a assistência de uma equipe multidisciplinar composta por oncologista pediátrico, oftalmologista, e enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos que acompanham os pequenos desde que chegam à unidade e ao longo de todo o tratamento. Cerca de 70 pacientes estão em seguimento (acompanhamento realizado após o tratamento). Desde 2006, a unidade já atendeu 103 crianças com retinoblastoma.
Causas
Segundo a SBOP, o retinoblastoma se desenvolve quando há uma anormalidade genética no cromossomo número 13. Contudo, a maioria não é hereditária: apenas 10% dos pacientes têm um membro da família com a doença; os outros 90% dos casos são esporádicos e se desenvolvem sem aviso prévio. Além disso, cerca de 40% das crianças com retinoblastoma têm uma forma genética herdada do tumor, mesmo sem ninguém mais na família ter o problema. A doença não é causada por fatores externos, como fumar, beber, etc.
Dia Mundial do Câncer
Nesta sexta-feira, 4 de fevereiro, é o Dia Mundial do Câncer, data idealizada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), para a conscientização e a educação global sobre a doença. Na ocasião, é reforçada a importância de hábitos saudáveis para a prevenção do câncer e também a importância do diagnóstico precoce para a aumentar os índices de cura.