O ex-candidato a presidente, Ciro Gomes (PDT), voltou ao Brasil há cerca de um mês, após uma temporada nos Estados Unidos, em silêncio e sem deixar claro o que planeja para o próprio futuro. Depois de disputar o Palácio do Planalto quatro vezes, ele sinaliza a aliados que não pretende concorrer de novo ao cargo em 2026 e, nos bastidores, tem sido aconselhado a se lançar ao Senado. Na semana que vem, Ciro fará uma palestra em Lisboa, ocasião em que poderá indicar o rumo que tomará daqui para a frente.
Seu irmão Cid Gomes (PDT-CE), senador eleito em 2018, defende a ideia publicamente e se compromete a abrir mão da reeleição para isso.
— Da minha parte, o lugar sempre estará disponível para ele. Se ele quiser o Senado em 2026, terá meu apoio. Claro (que não tentaria a reeleição), não faz sentido ter dois irmãos candidatos — disse ao jornal O GLOBO.
Os dois, contudo, não se falam desde o ano passado, de acordo com Cid. Eles brigaram durante a campanha porque o senador defendia uma aliança com o PT no Ceará, plano rechaçado pelo então postulante à Presidência. Ciro terminou a eleição em quarto lugar, seu pior desempenho em disputas pelo Executivo federal.
Aliados apostam que Ciro Gomes dará início a uma nova fase — ao menos no primeiro momento — longe de trincheiras eleitorais e dos confrontos políticos. Caso a previsão se confirme, será uma guinada. Desde 2018 até a eleição do ano passado, ele se dedicou a fazer duros ataques ao hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao então mandatário da República Jair Bolsonaro.
Aposta na moderação
Na semana que vem, Ciro vai ministrar uma palestra na faculdade de direito da Universidade de Lisboa. Há uma expectativa na cúpula do PDT de que Ciro não vá repetir o tom agressivo. O político e seu partido também se afastaram após a disputa de 2022. No segundo turno, o PDT engrossou o palanque de Lula, enquanto Ciro se manteve distante do debate, embora tenha dito que acompanharia a posição adotada pela sigla.
O PDT compõe a base do governo e está representado na Esplanada com o ministro da Previdência, Carlos Lupi. Em sua primeira aparição pública neste ano, Ciro Gomes elogiou Lupi. Durante um evento em Fortaleza, no mês passado, ele afirmou que o correligionário “está fazendo um furacão de coisas” no ministério. Questionado sobre uma avaliação mais ampla do governo Lula na ocasião, ele silenciou.
Pessoas próximas não enxergam a possibilidade de Ciro se tornar um apoiador do governo, mas, por outro lado, não acreditam que ele fará oposição contundente.
— Ele tem sido comedido. Não tem feito nenhum comentário sobre o governo estadual ou federal. Está em uma fase de análise. O governo ainda está começando, são quatro meses apenas — disse o presidente interino do PDT e líder na Câmara, André Figueiredo (CE).
Na semana passada, Ciro Gomes compareceu a um show da cantora Alcione, em Fortaleza. A artista convidou-o para o palco e o chamou de “meu senador”. Ele evitou falar sobre política mais uma vez e apenas parabenizou a cantora pelos anos de carreira.
Um dos personagens de confiança do candidato a presidente derrotado, André Figueiredo não descarta sequer a possibilidade de Ciro não concorrer mais a cargo algum. Nesse cenário, aposta que o correligionário pode ser útil no papel de “orientador” do partido. Figueiredo admite que o mau resultado de 2022 influenciou na ausência de Ciro no debate público.
— Em 2018, havia saído de um processo eleitoral em que foi o terceiro colocado, com votação muito expressiva. Ele já tinha colocado que seria mais uma vez candidato a presidente — disse. — Agora, ele tem colocado que não é candidato.
O evento a que Ciro comparecerá em Lisboa é organizado pelo eurodeputado português Francisco Guerreiro. Em artigo publicado na revista Nova Gente, de Portugal, Guerreiro afirmou que, “depois de cem dias de mandato de Lula, as propostas de Ciro se mantêm atuais”. A ideia é que a exposição foque nas propostas econômicas do ex-governador em comparação às do governo petista.
“Da minha parte, o lugar dele estará sempre disponível. Se ele quiser o Senado em 2026, terá o meu apoio”
Cid Gomes, senador pelo Ceará, que se compromete a não disputar a reeleição, caso o irmão se lance ao Congresso.