O advogado Frederick Wassef admitiu nesta terça-feira ter recomprado o relógio Rolex que foi vendido ilegalmente nos Estados Unidos pelo ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid. Em entrevista coletiva, Wassef negou que tenha participado da “operação resgate” a pedido de Cid ou Jair Bolsonaro, mas não revelou quem teria feito o pedido.
— Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos. Eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Eu tenho conta aberta nos Estados Unidos, num banco em Miami, e usei o meu dinheiro para pagar o relógio — afirmou o advogado, que ainda acrescentou. — O meu objetivo quando eu comprei esse relógio era exatamente devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República, isso inclusive por decisão do Tribunal de Contas da União. Eu tomei a decisão de comprar. Foi solicitado. Comprei. E fiz chegar ao Brasil. Se quiser perguntar detalhamento, qual voo, que horas você entrou, para quem você deu, nesse momento não posso falar.
Questionado sobre quem teria solicitado a recompra, ele respondeu:
— Quem solicitou? Não foi Jair Bolsonaro e não foi coronel Cid.
Na entrevista, Wassef disse que a viagem aos EUA já estava marcada e teria fins pessoais. Em entrevista ao blog da Andreia Sadi nesta segunda-feira, o advogado afirmou que nunca havia visto o relógio.
Wassef disse que a recompra foi feita com dinheiro vivo. A jornalistas, ele mostrou um recibo de compra de US$ 49 mil e outro recibo de saque no valor de US$ 35 mil. Segundo ele, a compra foi declarada à Receita Federal.
Wassef foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) na última sexta-feira sob a suspeita de envolvimento em um esquema que teria desviado presentes oficiais recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. O advogado da família Bolsonaro teria participado de uma “operação de resgate” de um relógio Rolex recebido pelo então chefe do Executivo durante viagem oficial à Arábia Saudita.
Segundo a PF, Wassef teria entregado a peça ao ex-ajudante de ordens Mauro Cid em um encontro na Sociedade Hípica Paulista, em São Paulo. Mensagens de WhatsApp obtidas pela PF mostram que Wassef chegou em São Paulo com o relógio no dia 29 de março deste ano após buscar o item em uma loja na Pensilvânia, nos Estados Unidos, para a qual o Rolex havia sido vendido. No mesmo dia, o coronel Marcelo Costa Câmara, assessor do ex-presidente, escreveu para Mauro Cid: “Material em São Paulo”, referindo-se ao relógio, de acordo com a investigação da Polícia Federal.
“No dia 02/04/2023, Mauro Cid avisa a Frederick Wassef: ‘Estou indo para a Hípica’ e em seguida passa as coordenadas geográficas da Sociedade Hípica Paulista”, descreveu a PF em relatório enviado ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Há também o registro de uma ligação perdida do advogado no mesmo contexto. “Mauro Cid, possivelmente, só ficou com a posse do relógio no dia 2 de abril de 2023, após um encontro na Sociedade Hípica Paulista, com Frederick Wassef”, indica a investigação. Em nota, o advogado negou envolvimento na compra e venda de joias.
A participação de Wassef na “operação de resgate” causou um “climão” na defesa de Bolsonaro e desorientou os demais integrantes da equipe de advogados do ex-presidente. Para aliados de Bolsonaro, a recompra do Rolex por Wassef teria sido um esforço pessoal do advogado para tentar se reaproximar do clã e ganhar notoriedade e relevância junto ao ex-presidente.
Wassef representa Bolsonaro em diferentes processos e ganhou projeção em 2019, quando conseguiu que o STF suspendesse todas as investigações feitas com base no compartilhamento de dados bancários sem autorização judicial — o que incluía a investigação sobre um esquema de rachadinha no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro (PL).
O advogado também voltou a chamar atenção em junho de 2020, quando Fabrício Queiroz, apontado como operador da rachadinha, foi preso em um sítio de sua propriedade em Atibaia (SP). O paradeiro de Queiroz era desconhecido há quase um ano, e o advogado havia dito anteriormente que não sabia onde estava o ex-assessor de Flávio.
O Globo