Posted @withregram • @nocariritem O hacker Walter Delgatti Neto disse em depoimento à CPI dos Atos Golpistas que, em uma reunião com assessores de campanha de Jair Bolsonaro, em outubro de 2022, foi aconselhado a criar um “código-fonte falso” para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável e passível de fraude.
A proposta teria partido do marqueteiro Duda Lima em uma reunião com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e outras pessoas ligadas à parlamentar.
“A segunda ideia era no dia 7 de setembro, eles pegarem uma urna emprestada da OAB, acredito. E que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro”, disse Delgatti.
“O código-fonte da urna, eu faria o meu, não o do TSE. Só mostrando, a população vendo que é possível apertar um voto e imprimir outro. Era essa a ideia.”
Questionado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), relatora da CPI, Delgatti reafirmou que não chegou a operar com o código-fonte original do TSE. E que a ideia de criar um código próprio veio de Duda Lima.
“Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE. E nesse código-fonte, eu inserisse essas linhas, que eles chamam de ‘código malicioso’, porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição.”
Quem é o hacker?
Delgatti ficou conhecido por ter vazado, em 2019, mensagens atribuídas ao então ministro da Justiça e ex-juiz Sergio Moro, a integrantes da força-tarefa da Lava Jato e outras autoridades. Ele chegou ao Senado pouco antes das 9h.
Recentemente, o “hacker de Araraquara” voltou à mira da Polícia Federal pela invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para a inclusão de um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
No ofício, havia inclusive a frase “faz o L” — um dos slogans da campanha eleitoral mais recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
À época, Walter Delgatti Neto disse que o falso documento foi redigido pela deputada Carla Zambelli (PL-SP).
No total, foram aprovados 6 requerimentos para convocação do hacker — todos de autoria parlamentares da base de apoio do governo, entre eles a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
Na noite desta quarta (16), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou que o hacker recorra ao silêncio durante o depoimento. A decisão atendeu a um pedido da defesa de Delgatti.
Segundo Fachin, ele também:
poderá contar com a assistência de um advogado e não deverá “sofrer constrangimentos físicos ou morais decorrentes do exercício dos direitos anteriores”
R$ 40 mil de Zambelli
Walter Delgatti Neto voltou a ser ouvido pela Polícia Federal nesta quarta (16), um dia antes da ida à CPI. Foi a segunda vez em que o hacker depôs sobre a relação com Zambelli e o plano para invadir sistemas do Judiciário.
Investigado pela tentativa de invasão à Justiça, Delgatti está preso desde o início de agosto. Ele foi detido em operação da PF, que também contou com buscas e apreensões em endereços de Zambelli.
Segundo o advogado Ariovaldo Moreira, no depoimento, o hacker complementou informações e apresentou provas à PF de que foi contratado pela deputada para “invadir qualquer sistema do Judiciário”.
Em entrevista a jornalistas, Moreira declarou que Delgatti recebeu R$ 40 mil pelo serviço.
“Ele faz provas de que recebeu valores da Carla Zambelli. Segundo o Walter, o valor chega próximo a R$ 40 mil. Foi próximo a R$ 14 mil em depósito bancário. O restante, em espécie. [Para] invadir qualquer sistema do Judiciário”, disse o advogado.
Em depoimento à PF, Delgatti disse que esteve no Palácio da Alvorada e que, na ocasião, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) teria questionado a ele se seria possível invadir as urnas eletrônicas.
O encontro entre o hacker e Bolsonaro foi articulado por Zambelli. Enquanto presidente da República, Bolsonaro fez reiteradas críticas às urnas e tentou colocar em xeque o sistema eleitoral sem jamais ter apresentado provas de eventuais irregularidades.
Em uma das empreitadas contra o sistema eleitoral, o então presidente convocou embaixadores para encontro no Palácio da Alvorada, com o objetivo de apresentar suposições infundadas sobre o processo eleitoral brasileiro. A reunião levou o TSE a declarar Bolsonaro inelegível.
À imprensa, a defesa de Carla Zambelli afirmou que a deputada “rechaça qualquer acusação de prática de conduta ilícita e imoral pela parlamentar, inclusive, negando qualquer tipo de pagamento ao mencionado hacker”.
G1