No dia 26 de setembro de 2008, o Ceará realizou o primeiro transplante de medula óssea na rede pública de saúde. Os 15 anos dessa história de cooperação, inovação e solidariedade foram celebrados na manhã desta terça-feira (26), em solenidade realizada no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), em Fortaleza.
Estiveram presentes na ocasião, profissionais da saúde, pacientes transplantados, e a titular da Saúde do Ceará, Tânia Mara Coelho, entre outros gestores públicos. Na oportunidade, profissionais que fazem parte dessa trajetória foram homenageados.
DNA solidário e inovador
O transplante de medula óssea é um tipo de tratamento indicado para algumas doenças que afetam as células do sangue. No Ceará, os procedimentos na rede pública são resultado da parceria entre o Hemoce, vinculado à Secretaria da Saúde, e o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), da Universidade Federal do Ceará (UFC).
O hemocentro cearense realiza a triagem de candidatos, testes de compatibilidade, exames e coleta da medula por aférese. Também é feita a coleta células para transplante alogênico não aparentado em pacientes de outros estados e países. Até agosto deste ano, já foram feitas 110 coletas, sendo 63 para transplante de medula óssea em outros estados e 47 para outros países (Estados Unidos, França, Itália, Portugal, Canadá, Argentina, Holanda e Turquia).
A cooperação entre Hemoce e HUWC já atingiu a marca de 769 transplantes de medula óssea realizados até o momento. O Ceará tem uma média de sobrevida dos pacientes transplantados de 95,3%, superior à média nacional, que atualmente é de 90%, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
Esperanças
Em 2014, foi dado outro importante passo nessa trajetória. O Hemoce e o Hospital Walter Cantídio começaram a realizar o transplante alogênico, no qual a medula é de outro indivíduo. Antes eram realizados transplantes autólogos (com medula do próprio paciente).
O agricultor Francisco Erisleudo Brito, 37, natural de Quixeré, fez questão de estar em Fortaleza para celebrar a data. Ele foi diagnosticado com leucemia e, em 4 de setembro de 2014, passou por transplante alogênico aparentado no HUWC. “Eu sempre botei na cabeça que eu não estava doente. Sou otimista, tenho fé e vontade de viver. Sou a prova viva disso. Eu só tenho um irmão e ele foi compatível comigo. Primeiramente, tenho agradecer a Deus, meu irmão e a quem me apoiou. Agora, faço acompanhamento de seis em seis meses”, disse.
Outra paciente é Cícera Martins, 50, do Crato, que há seis meses foi transplantada. “Eu fui diagnosticada com uma síndrome mielodisplásica. Eu tenho a melhor equipe de médicos. Aparecem umas médicas competentes e cheias de amor e carinho. As recepcionistas também são pessoas lindas. Eu amo todos do Hemoce e Walter Cantídio”, expressa.
O processo de tratamento aproxima pacientes,famílias e as equipes, criando uma rede vital para a cura. Exemplo disso é o D+ Vida, grupo de apoio criado pelas pacientes transplantadas Naiane Monteiro, Letícia Mota e Ingrid de Castro. “A rotina de hospital sempre deixa os pacientes mais ansiosos. Nós não entendemos a razão de certos procedimentos. Mas, quando temos sorte de sermos atendidos por uma equipe capaz, dedicada, atenciosa e, sobretudo, humana, toda a ansiedade passa”, revela.
A diretora do Hemoce, Luciana Carlos, aponta a diferença que a união faz para os pacientes. “O Hemoce, uma unidade pública que tem a missão de servir a todos, tem a solidariedade em seu DNA. Aqui, aprendi e encontrei meu propósito profissional: a certeza de que tudo vale a pena quando ajudamos as pessoas. Começamos recebendo a solidariedade em formato de sangue, e depois como medula óssea. Nós vamos continuar avançando, porque o Hemoce não para de se desafiar e buscar mais”, disse.
O Hemoce foi o primeiro hemocentro do Nordeste a receber a acreditação da AABB – Associação Americana Association for the Advancement of Blood & Biotherapies (Associação Americana de Avanços do Sangue e Bioterapias). O Programa de Acreditação da AABB é uma parceria com a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular que certifica os processos e serviços de hemoterapia dos hemocentros com alto padrão de qualidade e garante melhor atendimento e segurança para doadores e pacientes.
Fernando Barroso, médico, professor da UFC e chefe do setor de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do HUWC, também destaca que os transplantes são feitos a muitas mãos dedicadas. “O transplante nos obriga a entender que precisamos nos unir. Ele nos obriga a não ter vaidade, ser solidário e compreender que a dor do outro é nossa também. É uma grande rede de solidariedade. Nós tanto coletamos medula aqui e enviamos para qualquer lugar do mundo, como também recebemos de outros lugares”, afirma.
O HUWC é um importante centro de ensino, pesquisa e serviço em saúde no Ceará, com certificação nível A pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde. Para atender os pacientes de forma integral e multidisciplinar, a unidade conta com equipe multiprofissional com médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, assistentes sociais, farmacêuticos, fisioterapeutas, nutricionistas, dentistas e psicólogos.
O reitor da UFC, Custódio Almeida, ressaltou a importância dessa integração para a sociedade cearense. “É um trabalho que merece nossos aplausos. É isso que a gente quer que se fortaleça. Sentimos com isso a vida renascer”, garante.
Doação é sinônimo de vida
O Ceará também se destaca como estado do Norte-Nordeste brasileiro com o maior número de pessoas cadastradas como possíveis doadores de medula óssea. Ao todo, são 225 mil cadastros.
A Hemorrede Pública Estadual é composta pelo Hemocentro Coordenador, com sede em Fortaleza; dois Postos de Coleta de Sangue, um no Instituto Dr. José Frota (IJF), e outro localizado na Praça das Flores e quatro Hemocentros Regionais, nos municípios de Sobral, Quixadá, Crato e Iguatu; um Hemonúcleo, em Juazeiro do Norte. A hemorrede conta também com 64 Agências Transfusionais localizadas nos hospitais atendidos pelas unidades da Capital e interior do Ceará.