Segundo o Serasa Experian, o número de cearenses com contas em atraso a mais de 90 dias ultrapassou a marca dos 2,6 milhões em janeiro deste ano. Esse é o número mais alto dos últimos dois anos.
O volume é 11% maior que em janeiro de 2021, quando 2,3 milhões estavam inadimplentes, e representa 38% da população adulta do Estado. Somente em Fortaleza, são 1,07 milhão de pessoas nessa situação, uma alta de 8,07% em um ano.
Segundo o levantamento, o valor médio das dívidas por inadimplente no Ceará alcança a marca de R$ 3.294,72, totalizando mais de R$ 8,6 bilhões em débitos abertos.
Proporção de inadimplentes no Nordeste
- Pernambuco 41,10%
- Sergipe 40,16%
- Maranhão 38,06%
- Ceará 38%
- Rio Grande do Norte 37,62%
- Bahia 36,98%
- Alagoas 36,48%
- Paraíba 36,44%
- Piauí 32,79%
Macroeconomia
O gerente Serasa Matheus Losi aponta que a expectativa de uma recuperação econômica mais forte foi frustrada no fim do ano com a chegada de uma nova onda de contaminação pela variante Ômicron.
Ele pontua que essa frustração, aliada a alta taxa de juros e a elevada inflação, contribuiu para o novo aumento do número de inadimplentes em todo o País, inclusive no Ceará.
“O objetivo era ter um recomeço em 2022. Pelo menos era o que nos dava indício até novembro. Só que a pandemia não ter estabilizado, o novo surto em janeiro e a economia não ter reagido, afetou muito a renda do brasileiro, que já vinha deteriorada”, afirma Losi.
O secretário da Academia Cearense de Economia, Ricardo Coimbra, reforça que o nível de renda está estagnado nos últimos anos e que a forte inflação vem corroendo o poder de compra das famílias, diminuindo a capacidade de pagamento.
“Esse cenário faz as pessoas utilizarem o crédito por mais tempo e acabam com dificuldade de honrar o pagamento”, pontua.
Além disso, ele lembra que a taxa de juros vem sendo elevada pelo Banco Central, o que resulta em um custo de crédito mais caro.
Perfil da dívida
O Serasa também aponta que a maioria das dívidas no Estado são referentes a bancos e cartões de crédito (33,6%), seguida pelas utilities (22,1%), categoria que representa as contas básicas como água, luz, e gás, e pelo varejo (11,6%).
Coimbra ressalta que o comprometimento da renda está ficando tão elevado, que o orçamento das famílias não tem sido suficiente para honrar nem mesmo as despesas mais básicas.
Além disso, o levantamento ainda aponta que 70% dos brasileiros fazem compras de alimentos com cartão de crédito, ampliam o scroll de dívidas com despesas de primeira necessidade.
“Você passa dois, três meses pagamento um alimento que você consumiu lá atrás. Todos esses fatores vão gerando um maior empobrecimento da população, que não tem capacidade de ter crescimento de poupança pro futuro e até mesmo de ter subsistência”, alerta Coimbra.
O conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), Ricardo Eleutério, também destaca que o salto na Selic de 2% para 10,75% em um ano e a previsão de novos aumentos deve encarecer ainda mais as dívidas existentes.
“As pessoas que estão endividadas vão enfrentar um custo dessas dívidas maior ainda. O juros dos empréstimos, do cartão de crédito, todos os múltiplos da Selic vão subir”, afirma.
Tendo em vista os impactos do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, a incerteza de um ano eleitoral, a expectativa de contínuas altas da inflação e do juros, ele acrescenta que a previsão de curto e médio prazo é que o equilíbrio orçamentário das famílias continue sofrendo.