Um exame recém-aprovado nos Estados Unidos está sendo utilizado para identificar sinais do transtorno do espectro autista (TEA) em bebês. A tecnologia emprega rastreamento ocular enquanto a criança assiste a vídeos e foi desenvolvida com a participação do neurocientista brasileiro Ami Klin, diretor de um centro especializado em autismo em Atlanta.
A metodologia consiste na exibição de 14 vídeos curtos para crianças com idades entre 1 ano e 4 meses e 2 anos e meio. Durante a exibição, câmeras registram a movimentação ocular e um sistema analisa, em tempo real, padrões de atenção. “As crianças neurotípicas prestam atenção nas expressões emocionais. Já as com autismo estão observando aquela portinha do carrinho abrir e fechar”, explica Klin. O resultado do exame é disponibilizado em cerca de 15 minutos.
Segundo o pesquisador, o diagnóstico feito de forma antecipada contribui para o início mais rápido de intervenções. “Quando o diagnóstico vem tarde, o que se trata são as consequências do autismo sem intervenção, como atrasos na linguagem e no desenvolvimento intelectual”, afirma.
Aprovado em agosto de 2023 pelo órgão regulador dos Estados Unidos, o exame já está sendo aplicado em 47 centros especializados do país. Cerca de 5.800 crianças passam pela avaliação anualmente. Foram também implementadas duas unidades móveis, em vans adaptadas, para levar o exame a locais de difícil acesso.
O custo estimado do equipamento é de US$ 7 mil. Cada exame custa aproximadamente US$ 225. Em algumas localidades, como no estado da Geórgia, planos de saúde já cobrem o procedimento. Não há, até o momento, previsão para o uso do exame no Brasil, onde ainda depende da análise e aprovação de órgãos regulatórios.
O caso de Linqay, de seis anos, foi relatado na reportagem como exemplo de uma criança que passou pelo diagnóstico tradicional antes da nova tecnologia. O processo durou três meses. Sua mãe, Tiffany Glenn, relatou:
“Foi um período de muita ansiedade, fiquei um pouco deprimida. Como mãe, depois de carregá-la por oito meses, meu primeiro instinto foi: o que eu deixei de fazer? Não tomei vitaminas suficientes? Eu tinha ido a todas as consultas médicas. Sabe, o que eu poderia ter feito de diferente? Mas, obviamente, à medida que aprendi mais sobre o autismo, entendi que não era por aí”.
Hoje, Linqay participa de sessões de terapia ocupacional, fonoaudiologia e de um programa de desenvolvimento no instituto onde Ami Klin atua. Ela realiza o novo exame mensalmente para acompanhar seu progresso.
“O futuro da minha filha vai ser brilhante. Ela é uma garota tão doce e tem uma personalidade tão incrível. Hoje eu desejo todas as coisas que um dia eu já duvidei. Que ela se case, se forme na escola, tenha um diploma. Ela está no jardim de infância e eu já estou pensando na faculdade. Eu sou muito grata e animada com o futuro dela”, diz a mãe.
Ami Klin também reforça a importância de alterar a percepção pública sobre o autismo:
“O autismo não é uma doença, é um fator genético. É como se o fato que você tem o cabelo, o cabelo preto, o cabelo loiro é um. É uma maneira humana de você estar nesse mundo”.