O Ministério da Saúde excluiu as crianças com mais de cinco anos dos grupos prioritários da campanha de vacinação contra a gripe, que começa no dia 4 de abril. Agora, as doses serão aplicadas apenas em crianças de seis meses a quatro anos e onze meses de idade. Em 2021, crianças com até cinco anos e onze meses tiveram direito à vacina.
Para a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) e mestre em saúde pela USP, a decisão do ministério não faz nenhum sentido, já que crianças têm maior risco de adoecimento, agravamento e óbito por influenza, junto com os idosos.
“Deveríamos estar ampliando a vacinação até os 9 anos e não reduzindo a população alvo, principalmente porque as crianças são importante fonte de transmissão da influenza na comunidade. O Ministério da Saúde precisa explicar a razão desta decisão, pois diante da situação epidemiológica da doença não há nenhuma justificativa“, diz.
Renato Kfouri, pediatra, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), concorda com Domingues e classifica essa decisão do ministério como um retrocesso.
“Quanto mais a gente aumenta a base de vacinados para a gripe, todos se beneficiam a uma menor transmissão. As crianças têm um papel muito importante na cadeia de transmissão da gripe. Elas se infectam mais que os adultos, transmitem por mais tempo. As crianças são, na maioria das vezes, a porta de entrada do vírus nas famílias. Diminuir a base de crianças vacinadas no programa é um retrocesso”, alerta Kfouri.
Na terça-feira (15), a CBN apurou que a mudança foi motivo de divergência em reunião da câmara técnica que assessora o Ministério da Saúde. Segundo a CBN, o governo federal chegou a alegar que precisava reduzir o público-alvo da campanha pelo risco de faltar seringas.
“Se a decisão for baseada no risco de faltar insumos, isso é falta de planejamento, pois a campanha é anual e todos já deveriam estar se organizando. Não só o ministério, mas estados e municípios”, completa Domingues.
A campanha de vacinação contra a gripe começa no dia 4 de abril e vai até 3 de junho. Serão distribuídas 80 milhões de doses contra a Influenza, com a meta de vacinação de 79,7 milhões de pessoas dos grupos prioritários.
A primeira etapa, que vai até o dia 2 de maio, dará prioridade para os idosos com mais de 60 anos e trabalhadores da saúde. A segunda etapa, que começa até 3 de maio, contemplará crianças menores de 5 anos, grávidas, puérperas, professores, indígenas, professores, pessoas com deficiência e comorbidades, trabalhadores de transporte coletivo e caminhoneiros, forças de segurança, trabalhadores portuários, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade.
Veja nota do Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde informa que, em virtude da transmissão sustentada de casos de sarampo no país, a Campanha Nacional contra o Sarampo ocorrerá simultaneamente com a Campanha Nacional contra a Influenza, neste ano. A medida tem como objetivo oportunizar a vacinação contra as duas doenças e ampliar a cobertura vacinal.
Ambas as campanhas serão focadas em crianças de seis meses a menores de cinco anos de idade, visando otimizar questões operacionais e logísticas dos serviços de vacinação nos estados e municípios e reduzir o risco de complicações e óbitos para a influenza nesta faixa etária.