Em 2005, o Brasil adquiriu, pela sétima vez, um avião para transporte do Presidente da República. O ocupante do Palácio do Planalto era Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então em seu primeiro mandato. Agora, de acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), o governo estuda novamente a possibilidade de troca da aeronove.
Lula deseja uma aeronave com maior autonomia de voo, que não exija muitas escalas para abastecimento e mais espaço para acomodar convidados. Para isso, a FAB estuda duas alternativas: adaptar uma das duas aeronaves Airbus A330-200, compradas durante o governo Jair Bolsonaro, ou adquirir um novo avião, usado, já com as configurações prontas.
Para adaptar o Airbus A330-200, seria preciso colocar internet, suíte com chuveiro e uma sala reservada para que o presidente possa despachar – um gasto considerado elevado. A FAB vai fazer a cotação do valor, que pode subir pelas exigências de Lula e da primeira-dama, Rosângela da Silva (Janja). Dependendo dos custos, a compra de um outro avião usado pode ficar mais atrativa.
O assunto teria sido tratado durante um almoço do presidente com o alto comando da FAB na última quarta-feira. Em nota, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência negou que esse tenha sido o motivo do encontro de Lula com a cúpula da FAB e que haja alguma decisão sobre o assunto. Interlocutores militares, no entanto, confirmaram ao GLOBO que o tema foi discutido.
“A Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República informa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva compareceu na Aeronáutica, assim como na Marinha e no Exército, na última quarta-feira (31/5), para discutir assuntos referentes a projetos de cada Força, e da Defesa Nacional. Não há nenhuma decisão sobre a aquisição de novo avião, nem foi esse o motivo da reunião dele com o Alto Comando da Aeronáutica”.
Para fazer as adaptações no Airbus A 330-200, a aeronave teria que ficar parada por um prazo de até 45 dias ou mais, dependendo da configuração. As duas aeronaves foram compradas da Azul por US$ 80 milhões, durante a pandemia, que derrubou os voos, sobretudo internacionais. Segundo um militar, a Força viu a oportunidade de reforçar a frota com duas aeronaves, diante das dificuldades operacionais enfrentadas no período. Entre elas, o transporte de cilindro de oxigênio para Manaus e a busca de brasileiros na China.
A Força também tinha planos para preparar os dois aviões a fim serem utilizados no abastecimento de caças.
Apesar de as adaptações não inviabilizarem essas atividades, o uso no novo avião presidencial pela FAB ficaria mais restrito e dependeria dos pedidos do presidente e da primeira-dama. Nas viagens internacionais, Janja costuma ter influência sobre as decisões, segundo um interlocutor.
O atual avião presidencial, um A 319, chamado de “Aerolula”, foi comprado pelo próprio presidente, em seu primeiro mandato. Tem 18 anos de uso e se aproxima da metade do ciclo de vida, o que exigirá passar por um processo de reformulação. Ele possui suíte presidencial e chuveiro, um espaço reservado com duas mesas e oito cadeiras e capacidade para 16 pessoas, mais a tripulação, um total de 39 passageiros.
Já o A 330-200 tem capacidade para cerca de 250 passageiros ou um pouco mais, dependendo da configuração. É um avião enorme, com autonomia para até 16 horas e de voo, disse um militar que está acompanhando as discussões. A Aeronáutica defende que Lula só utilize a nova aeronave para voos longos.
A FAB já vinha discutindo trocar o avião presidencial por uma aeronave mais nova e com maior autonomia de voo. Mas o projeto foi acelerado após a viagem de Lula ao Japão, quando precisou fazer duas escalas, em Guadalara (México) e no Alaska (EUA). Assim, o trajeto ficou cansativo para o presidente que tem 77 anos, além de maior custo com tarifas aeroportuárias e riscos à segurança.
Lula já voou no A 330-200, ainda sem adaptações. Em fevereiro, fez o trajeto Brasília-Rio e Washington. Além do Aerolula, o presidente tem à disposição uma frota de aviões e helicópteros do Grupo de Transporte Especial (GTE), que fica em Brasília.
Procurada, a FAB confirmou que estuda o assunto.
O Globo