Em 2014, quando foi aprovada num concurso de locução esportiva da Rádio Globo, Renata Silveira tinha o sonho de trabalhar numa área da comunicação historicamente ligada aos homens. Queria chegar longe, pensava grande, mas não imaginava que sua carreira fosse dar uma guinada que a levaria a fazer história tão rapidamente.
Contratada pela TV Globo no final de 2020, a profissional, hoje com 32 anos, vê o ápice da sua trajetória se concretizar na Copa do Mundo do Catar, a partir do próximo dia 20 de novembro. Do Brasil, ela será a primeira mulher a narrar um jogo do Mundial masculino na TV aberta.
Pioneirismo não é novidade para Renata, que em 2018 abriu as portas para a mulherada ao narrar uma partida de futebol na TV fechada [Fox Sports]. “Foi maravilhoso, mas agora a proporção vai ser gigante”, analisa ela, que se diz mais do que prepara para o desafio. “Muita gente vai falar que nunca ouviu mulher no futebol, e essas pessoas vão se surpreender”, diz.
A locutora brinca que vive uma sequência de primeiras vezes nos quase dois anos em que está contratada da emissora carioca. Ela também foi a primeira voz feminina a narrar um jogo da seleção brasileira em Olimpíadas (Tóquio, 2020) e a primeira mulher a narrar pelo SporTV.
O que ela quer agora é ter mais mais companheiras ao seu lado na Copa de 2026. “Desde 2014 que vinha me questionando sobre o que eu estava fazendo, não tinha outras mulheres. Que loucura! Estamos chegando, construindo uma história de pioneirismo, derrubando preconceitos”.
A narradora Natália Lara já chegou: ela também terá a oportunidade de ocupar um lugar à frente do microfone nas transmissões da Copa. Ela vai fortalecer o time de narradores do SporTV, e assim como Renata, também se diz positivamente surpresa com o salto na carreira. “Eu realmente não esperava que fosse chegar a uma Copa tão cedo”, admite.
Nada, no entanto, veio por acaso. Nem de mão beijada, conta Lara. “Me preparei e me sinto pronta para representar as mulheres que lutaram por anos para que pudéssemos chegar”, diz.
O que ambas também sabem é que certamente vão ter que lidar com críticas e comparações. É do jogo. “O que queremos é que as pessoas falem das partidas e tenham respeito”, diz Renata, que tem uma postura relax em relação a possíveis cobranças: “Quando vejo que os caras falam mal até dos narradores que são os melhores, as referências, talvez não seja eu quem vá agradar a todos”, conclui.
Fonte: Folha de São Paulo