Davina Morais, de 33 anos, foi a primeira mulher trans a realizar uma cirurgia de feminização da voz em um hospital público do Ceará. O procedimento ocorreu no Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (Helv), em Fortaleza.
Conhecida como “glotoplastia de Wendler”, a cirurgia permite que mulheres trans tenham uma voz mais feminina, condizente com a identidade de gênero com a qual se identificam. Débora Lima, otorrinolaringologista que integrou a equipe cirúrgica de Davina, explica que a cirurgia é realizada sem cortes externos. “Com o auxílio de instrumentos especiais, como o microscópio, o comprimento da prega vocal é reduzido. São dados dois pontos para haver maior tensão e diminuição do comprimento e da massa dessa corda vocal”, afirma a médica.
Além disso, o procedimento é complementado por sessões de fonoterapia, realizadas antes e após a cirurgia. A coordenadora do Serviço de Fonoaudiologia do Helv, Wigna Raissa Matias, explica que, durante as sessões pré e pós-cirúrgicas, foram aplicados dois protocolos internacionais: o de Qualidade de Vida em Voz (QVV), que ajuda a compreender como o problema de voz pode interferir nas atividades da vida diária; e o Questionário de Autoavaliação Vocal para Transexuais (TWVQ, em inglês), que quantifica a autopercepção de uma mulher trans sobre sua voz, avaliando resultados de qualidade de vida de mulheres trans que buscam cuidados vocais de afirmação de gênero.
O encaminhamento para cirurgias de feminização da voz é realizado pela Central de Regulação do Estado. A procura pelo procedimento é comum entre pessoas em processo de transição de gênero, como as atendidas pelo Serviço Ambulatorial Transdisciplinar para Pessoas Transgênero (Sertrans). O serviço da Sesa oferece assistência de uma equipe multiprofissional formada por assistentes sociais, endocrinologistas, enfermeiros, psicólogos e psiquiatras. Para a cirurgia, as pacientes precisam estar em hormonioterapia há pelo menos seis meses e em acompanhamento psicológico por dois anos. A terapia hormonal é utilizada para iniciar o processo de feminização de mulheres transgênero. O objetivo de serviços como esse, oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é promover mudanças corporais que façam com que a aparência física da pessoa corresponda à sua identidade de gênero.
A coordenadora do Sertrans, Andie de Castro Lima, explica que a atuação da equipe técnica minimiza os sofrimentos relativos à disforia de gênero. “Oferecemos procedimentos endocrinológicos (como a terapia hormonal), bem como assistência psicossocial para trabalhar a (re)inserção familiar e comunitária das pessoas trans, auxiliando com procedimentos que vão desde a retificação do nome delas e o acesso a outras políticas sociais, até o acompanhamento de fatores que limitam ou potencializam o bem-estar de forma generalizada”, afirma.
Ainda segundo a gestora, a glotoplastia é fundamental para minimizar o sofrimento dessas mulheres. “Procedimentos cirúrgicos de redesignação vocal como a glotoplastia podem ter impactos consideráveis na autoestima e na autoeficácia das pessoas trans, promovendo também o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários”, explica.