A recente vitória de Donald Trump nas eleições americanas, tornando-o o presidente dos Estados Unidos pela segunda vez, gera expectativas de impacto significativo na economia brasileira. Com um discurso pautado no protecionismo econômico, a política “Make America Great Again” de Trump volta a colocar os interesses da indústria americana em primeiro plano, incluindo elevação de tarifas de importação e intensificação da guerra comercial com a China.
Para o Brasil, essas medidas protecionistas podem representar desafios. Segundo a professora de Economia Internacional da FGV, Carla Beni, Trump deve impor sobretaxas em produtos que “incomodem” a economia americana, como laranja, soja e carne, o que poderia reduzir a demanda por exportações brasileiras. Ela também alerta para o risco de inflação nos Estados Unidos: “Se a inflação americana se movimentar para cima, pode ser que o Banco Central Americano decida não manter o patamar de juros, e, eventualmente, elevá-los. Aí, nós teríamos um impacto no mundo todo”, explica.
A balança comercial brasileira, que se mantém positiva em grande parte pela exportação de commodities para os Estados Unidos e China, pode sofrer, caso a demanda americana por produtos estrangeiros diminua. A professora Juliane Furno, da UERJ, no entanto, aponta que essa situação de tensão entre Estados Unidos e China pode abrir uma nova oportunidade para o Brasil. “Na medida em que a tensão se acentua, Brasil pode barganhar melhores condições de financiamento, de transferência tecnológica e de investimento direto externo”, avalia a especialista.
A vitória de Trump reacende, inclusive, o debate sobre alinhamentos políticos entre Brasil e Estados Unidos. No dia da apuração, familiares e aliados de Trump se reuniram em Mar-a-Lago, na Flórida, para acompanhar o resultado, incluindo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL), que comemorou a vitória e aproveitou o momento para endossar a atuação de seu pai, Jair Bolsonaro. Entre os apoiadores de Bolsonaro no Brasil, o sucesso eleitoral de Trump representa uma oportunidade de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) pela anistia de presos relacionados aos eventos de 8 de janeiro e pela reversão da inelegibilidade do ex-presidente.
Por sua vez, o governo Lula observa com preocupação o pacote econômico de Trump, que pode afetar o câmbio e a inflação global. Na perspectiva do Planalto, a política agressiva de Trump pode levar a uma volatilidade cambial mais intensa no Brasil, aumentando os custos de importação e impactando o cenário econômico local.
*Com informações da cbn