A cantora Anitta contou nesta quinta-feira (7) na rede social Twitter que foi diagnosticada com endometriose, uma doença ginecológica que afeta uma em cada dez mulheres no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.
A doença, que pode ser extremamente incapacitante, provoca cólicas menstruais severas, dores abdominais fora do período menstrual, dores nas relações sexuais e sintomas intestinais e urinários. Ela também pode afetar a fertilidade da mulher.
Veja, em tópicos, o que é a endometriose, sintomas, diagnóstico e tratamentos:
- O que é a endometriose?
- O que causa a doença?
- Quais os sintomas?
- Como é feito o diagnóstico?
- Tratamentos
1) O que é a endometriose?
A endometriose é uma doença inflamatória crônica que afeta de 10% a 15% das mulheres em idade reprodutiva. Ela acontece quando o tecido da camada interna do útero – que sai na menstruação –começa a crescer fora dele.
A médica ginecologista Carolina Ambrogini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que esse tecido uterino fora do útero funciona como se fosse uma cola em outros órgãos da mulher.
“Ele funciona como se fosse uma cola, gera aderência dos órgãos pélvicos e, toda vez que a mulher menstrua, esses focos de endometriose descamam, virando dor. Pode grudar no intestino, na parede vaginal, na bexiga, e pode gerar infertilidade, porque ele pode obstruir as tubas uterinas. Isso é uma das consequências”, explica.
Segundo a Associação Brasileira de Endometriose, mais de 30% dos casos de endometriose levam à infertilidade. Com os tratamentos disponíveis hoje, entretanto, é possível que uma mulher com endometriose engravide e leve a gestação até o final ou engravide espontaneamente, de acordo com a associação.
“É, hoje, a principal causa de dores pélvicas em mulheres, assim como a principal causa de infertilidade feminina – cerca de 40% das mulheres de casais inférteis têm endometriose”, afirma o médico ginecologista Tomyo Arazawa, especialista em endoscopia ginecológica.
Segundo Julio Cesar Rosa e Silva, ginecologista e presidente da comissão especializada em endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), apesar de ser mais comum em mulheres que ainda menstruam, não existe uma idade para o seu aparecimento.
“Na sua grande maioria, a doença aparece em mulheres na idade reprodutiva, enquanto menstruam. Porém, existem casos de aparecimento da doença mesmo após a menopausa”, esclarece Silva.
2) Quais as causas da endometriose?
O ginecologista Tomyo Arazawa explica que a endometriose é uma doença complexa, causada por múltiplos fatores – como os genéticos, hormonais, imunológicos e até o estilo de vida.
“Existem fatores genéticos associados. Quando existe um antecedente familiar de endometriose, a chance de ter o diagnóstico é muito maior – está estimado entre 5 a 7 vezes maior que a população geral”, diz Arazawa.
Entre os hormônios, o estrogênio – um dos dois principais hormônios sexuais femininos – influencia na progressão das lesões.
“Coisas que podem influenciar a endometriose são: alimentação inadequada, imunidade não adequada por conta de sono; estilo de vida conta bastante nesse quesito de sintomas e fatores influenciadores da endometriose”, afirma.
3) Quais os sintomas?
Os sintomas são variados, mas o principal é a cólica menstrual que não melhora com medicações clássicas.
“É uma cólica incapacitante, que não melhora com bolsinha de água morna, que tira a mulher das suas atividades diárias”, alerta a ginecologista Helizabeth Salomão, vice-presidente da Associação Brasileira de Endometriose.
“Podemos encontrar desde pacientes assintomáticas a até quadros de dor pélvica intensa, dismenorreia progressiva (cólica menstrual), dispareunia (dor durante ou após a relação sexual), sintomas decorrentes de lesões em órgãos não reprodutivos, tais como bexiga e intestino, e infertilidade”, completa Julio Cesar Rosa e Silva.
Segundo Arazawa, as pacientes com a doença costumam sofrer com as dores por muitos anos, inclusive desde as primeiras menstruações.
“As pacientes podem começar a sentir dor também na região do reto, na evacuação, dor na região da bexiga, além de dores pélvicas. Tem pacientes que sentem dores pélvicas até diárias por conta de uma endometriose não diagnosticada e também não tratadas”, explica.
Veja os sintomas mais comuns:
- Cólica menstrual incapacitante
- Dor pélvica
- Dor na relação sexual (no momento da relação ou depois)
- Alterações intestinais no período menstrual (diarreia, sangue nas fezes, dor para evacuar)
- Alterações urinárias no período menstrual
- Infertilidade
4) Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da doença geralmente é feito pela clínica – com avaliação dos sintomas da paciente e um exame físico ginecológico direcionado.
“O médico vai examinar a paciente, palpar os ligamentos do útero, se o útero é doloroso na mobilização, se está fixo”, explica Carolina Ambrogini, da Unifesp.
A detecção também pode ser complementada por exames radiológicos específicos, como ressonância e um ultrassom específicos, explica Tomyo Arazawa.
“Existem dois principais exames radiológicos que são adequados para o diagnóstico da endometriose: um deles é a ressonância magnética com preparo intestinal, com protocolo específico para avaliação e mapeamento das lesões, analisadas por um radiologista especializado na endometriose”, diz o médico, que acrescenta que existem poucos os profissionais desse tipo.
“Um outro exame, que hoje em dia é o principal, é o ultrassom transvaginal com preparo intestinal, também com protocolo específico para endometriose, que também deve ser realizado por um radiologista especializado na detecção dessas lesões. Muitas dessas lesões, às vezes mais iniciais, são difíceis de serem diagnosticadas por radiologistas não especializados”, explica.
A demora no diagnóstico é um dos principais problemas da endometriose, afirma Arazawa.
“O diagnóstico precoce é fundamental – e é o primeiro grande desafio nas pacientes com endometriose, visto que estudos já mostraram que o intervalo médio entre o início dos sintomas até o diagnóstico varia entre 7 a 10 anos mundialmente”, explica.
Julio Cesar Rosa e Silva, da Febrasgo, relata que muitas pacientes acreditam que é normal ter muita cólica menstrual – e, por isso, não procuram atendimento.
“Também temos uma dificuldade de diagnóstico, principalmente nos casos iniciais da doença, que não alteram o exame clínico e nem os exames de imagem”, alerta.
Arazawa diz que, no cenário mundial, o Brasil é referência no tratamento e diagnóstico da doença – mas que, infelizmente, os recursos necessários para tratar a doença ainda não estão disponíveis para a grande maioria da população.
“São pouquíssimos especialistas, realmente, preparados para cuidar dessas pacientes em território nacional e internacional. A endometriose é um desafio internacional”, avalia.
5) Tratamento
O tratamento da endometriose pode variar desde cuidados com o estilo de vida – da alimentação, sono e gerenciamento de estresse – até bloqueios hormonais com anticoncepcionais ou medicamentos hormonais mais específicos, para inibir o estrogênio, explica Tomyo Arazawa.
Além desses, também há a opção de cirurgia, como no caso de Anitta. O procedimento pode ser bastante complexo, com horas de duração.
“O tratamento cirúrgico, hoje, é o único capaz de remover essas lesões. Essa cirurgia pode ser desde uma mais simples, como [também] uma das cirurgias potencialmente mais complexas na pelve de qualquer paciente, principalmente pacientes mulheres. Algumas cirurgias levam várias horas de duração, às vezes 8, 10 horas, dependendo da complexidade do caso””, afirma o médico.
Fonte: G1