Dos intérpretes de libras a um setor inteiro dedicado a pensar a acessibilidade, o festival promovido pelo Centro Cultural do Cariri marca espaço na missão de levar arte e cultura para todos os públicos e oferece soluções acessíveis em 90% da programação.
Como transpassar a barreira para as pessoas surdas aproveitarem um show musical ou um espetáculo de teatro? Como garantir que pessoas cegas ou com baixa visão possam acompanhar uma exposição? E como criar espaço para pessoas com deficiência (PCD) fruirem sua arte como realizadores e não apenas espectadores?
Dos intérpretes de libras e assistentes de suporte a um setor inteiro dedicado a pensar a acessibilidade, o “Festival Unaé – Sonhar o Cariri?” marca espaço na missão de levar arte e cultura para todos os públicos: pelo menos 90% da programação conta com soluções acessíveis. O festival acontece entre os dias 26 e 29 de outubro, no Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, gerido em parceria com o Instituto Mirante.
Multiartistas
Diretamente do Palco Mestre Azul, os multiartistas Leo Castilho e Erika Mota vão traduzir em libras e realizar a interpretação musical dos shows de Liniker, Luedji Luna, Cátia de França e Don L.
Surdo desde os oito meses de idade, Leo Castilho traduz músicas (em libras e na dança) para quem não pode ouvi-las. Ele também produz festas para pessoas surdas, com músicas altas e com graves. No ano passado, roubou a cena do Rock in Rio pelo trabalho que desenvolve há anos pelo direito das pessoas surdas ao acesso à cultura e à arte, sendo ainda ativista e articulador da proposta para inclusão de políticas para cultura surda na III Conferência Nacional de Cultura.
Já Erika Mota mergulhou no universo das libras como voluntária e abraçou a profissão, que exerce há mais de dez anos. Parceira nos projetos com Leo Castilho, ambos desenvolveram ações como Slam do Corpo, Sarau do Corpo e também formações para criação de sinais para espaços culturais.
Além dos shows musicais com tradutores de libras e performances, o festival contará com assistentes para dar suporte ao público com deficiência, intérpretes em quase toda a programação e visitas guiadas acessíveis às exposições. Uma novidade é o camarote de acessibilidade, um espaço com rampa, cadeiras, banheiro, assistentes e guarda corpo para dar segurança a pessoas com deficiência.
“O festival não só celebra a arte e a cultura do Cariri. Não é só difusão e fruição, ele também é um espaço de inclusão e implementação de políticas públicas. Então trazer a acessibilidade como um ponto central para o festival é também um fortalecimento da política do direito das pessoas com deficiência”, explica Jéssika Kariri, coordenadora de acessibilidade do Festival Unaé.
O Centro Cultural do Cariri realiza atividades com participação de intérpretes de libras
Totens com a programação diária do festival em libras, estarão distribuídos no centro cultural, além da audiodescrição dos espaços antes do início de cada atividade. O plano de acessibilidade do Festival Unaé foi construído para promover o exercício dos direitos e das liberdades das pessoas com deficiência, a partir da Lei Brasileira de Inclusão (13.146/2015). Também está amparado na Lei de Libras, oficializada como segundo idioma no Brasil desde 2002.
“O Centro Cultural do Cariri tem como premissa garantir o pleno exercício aos direitos e a cidadania cultural de todas as pessoas, que envolve o acesso, fruição e a produção da diversidade de expressões, entre elas a cultura surda, que vai além da acessibilidade, possibilita a formação, desenvolvimento e expressão desse segmento”, afirma o diretor do Festival Unaé, Américo Córdula.
Jéssika Kariri explica que a acessibilidade é um conjunto de estratégias que garante que as pessoas possam exercer a sua humanidade com dignidade, autonomia e independência. “Quando falamos do Festival Unaé, estamos falando de sonhar, celebrar e construir esse Cariri, que acreditamos que está para além do sonho, mas é um sonho político, um sonho real e um sonho de ação”, destaca.
Uma terra ancestral
O Festival Unaé é um momento para celebrar e fruir toda a efervescência cultural de uma terra ancestral, que respira história, tradição e contemporaneidade no sul do Ceará. Com 29 municípios, localizado a 400 quilômetros da capital Fortaleza, a região do Cariri é uma terra fértil que reinventa a vida com narrativas populares que atravessam a memória, a fé, a cultura e a ciência.
É terra de mestres de cultura e artistas da música, da literatura de cordel, da oralidade, da dança, do grafite, do teatro, do slam e de tantas outras linguagens constroem diariamente a identidade de um povo que olha para o passado enquanto sonha com o futuro.
“O festival abrange várias atrações nacionais e regionais, com shows e apresentações de muita qualidade e impacto, para marcar o início de trocas e difusão da produção cearense e intercâmbio cultural e se inserir no roteiro das apresentações nacionais de grandes nomes da região e de outros estados”, destaca a diretora do Centro Cultural do Cariri, Rosely Nakagawa.
A programação do festival está aberta a todos os públicos e está sujeita a lotação. A entrada é solidária, podendo ser realizada a doação de um quilo de alimento. Não haverá troca de ingressos.