A guerra contra a abstenção no segundo turno das eleições presidenciais mobiliza aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) com medidas que incluem desde a adoção de transporte público gratuito até o adiamento de feriados.
Em um cenário de disputa apertada –Lula tem 52% das intenções de votos válidos contra 48% de Bolsonaro, segundo o Datafolha– cada voto é considerado crucial para o resultado final.
Por isso, as campanhas do presidente e do ex-presidente se debruçam para mobilizar o eleitorado e evitar um crescimento da abstenção entre os seus redutos eleitorais.
Tradicionalmente, o número de ausentes cresce no segundo turno das eleições presidenciais em comparação com o primeiro. Em 2018, por exemplo, a taxa de abstenção foi de 20,33% para 21,20% entre a primeira e a segunda rodada do pleito.
Neste ano, a abstenção registrada no primeiro turno foi de 20,9% —a mais alta em eleições gerais desde 1998, embora próxima à de 2018.
Influi no crescimento da abstenção a menor mobilização em âmbito local, já que no segundo turno os deputados federais, estaduais e senadores já estão eleitos, assim como os governadores de parte das unidades da federação.
Desta forma, candidatos e líderes locais mais próximos do eleitorado estão com suas bases desmobilizadas.
Neste ano, 12 estados terão segundo turno nas eleições para governadores, o que deve mobilizar 53,2% dos 156 milhões de eleitores aptos a votar no país.
O percentual de eleitores que votarão tanto para presidente como para governador no segundo turno é menor do que em 2018, quando este número chegou a 62,6%, mas superior ao das eleições de 2006, 2010 e 2014.
Dos 24 candidatos que concorrem nos estados neste segundo turno, 10 são aliados de Lula, 9 de Bolsonaro e 5 se mantêm neutros em relação à eleição nacional. Bolsonaro, por sua vez, recebeu o apoio de governadores reeleitos em grandes colégios eleitorais como Minas Gerais e Rio de Janeiro.
No Distrito Federal, onde a eleição local foi definida no primeiro turno, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a transferência do ponto facultativo previsto para 28 de outubro, Dia do Servidor Público, para o dia 31, uma segunda-feira. Com isso, os servidores do Tribunal vão emendar com o feriado de Finados, em 2 de novembro.
Cada tribunal define o seu próprio calendário, mas eles costumam usar o STF como base. A campanha do presidente Jair Bolsonaro está apreensiva com os efeitos de um feriadão prolongado sobre a abstenção, principalmente de eleitores de maior renda.
Integrantes do governo e da campanha esperam que seus aliados encontrem uma forma de adiar o ponto facultativo, tanto a nível nacional como estadual e municipal. O tema tem sido discutido com prefeitos e governadores que apoiam Bolsonaro.
Oficialmente, o governo federal disse, em nota, que não há previsão de mudança na data do servidor e que o ponto facultativo não é obrigatório.
Em seus recentes discursos, o presidente Jair Bolsonaro tem pedido às pessoas para votarem e levarem seus familiares. O motivo é o temor de abstenção.
Na maioria dos estados, o Dia do Servidor foi transferido para o dia 14 de novembro, véspera do feriado da Proclamação da República. Mas também houve antecipação ou postergação para outras datas. Em Minas, por exemplo, será em 31 de outubro, um dia depois da eleição.
A mudança do feriado foi adotada pelos governos do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul, Amazonas, Espírito Santo, Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Mato Grosso do Sul. Os estados de Sergipe e de Rondônia mantiveram o feriado, e o Paraná ainda não decidiu sobre o tema.
A gratuidade do transporte público urbano no dia do segundo turno também entrou no radar das campanhas de Lula e Bolsonaro.
Nesta quarta (19), o STF formou maioria para manter decisão do ministro Luís Roberto Barroso que autorizou prefeituras e empresas concessionárias a oferecer transporte público de forma gratuita para a população no segundo turno, sem correr o risco de serem acusadas de crime eleitoral ou de improbidade.
A decisão foi em resposta a um pedido de esclarecimento da Rede Sustentabilidade, aliada a Lula.
A campanha pela garantia do transporte gratuito no dia da eleição vem sendo impulsionada por aliados de Lula, que tem maior intenção de voto entre os eleitores mais pobres e que dependem do transporte público para votar.
Por outro lado, a campanha de Bolsonaro se esforçou para barrar a medida no primeiro turno, quando fez pedido de esclarecimento ao STF.
Fonte: Folha de São Paulo