“Cadê meu celular? Eu vou ligar pro 180. Vou entregar teu nome e explicar meu endereço. Aqui você não entra mais, eu digo que não te conheço. Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”.
A canção de Elza Soares, Maria da Vila Matilde, introduz uma mensagem importante no sistema de fonia do Hospital Regional do Cariri (HRC). A ação faz parte das atividades alusivas ao Agosto Lilás, mês dedicado ao enfrentamento dos mais diversos tipos de violência contra a mulher, e traz recados de Coordenadoras, Diretoras e Assistentes Sociais dos principais equipamentos públicos de acolhimento às mulheres vítimas de violência da região caririense.
Além do comunicado, realizado durante os horários de visitas, rodas de conversas, blitz educativa, entre outras dinâmicas estão sendo realizadas com objetivo de fortalecer a conscientização e fornecer informações para a prevenção da violência contra a mulher.
A auxiliar de Serviços Gerais, Ana Karine, destacou a importância de promover essas reflexões para os acompanhantes presentes no HRC. “Foi um momento muito proveitoso. Tiramos dúvidas e fomos orientadas em como proceder e onde procurar ajuda quando somos vítimas de violência. Saber que há várias unidades que prestam acolhida e apoio às mulheres, traz um certo conforto”, comentou.
As ações do Agosto Lilás do HRC serão finalizadas no próximo dia 30 de agosto, a partir das 9h, com uma formação voltada para os profissionais de saúde da região para atendimento humanizado para mulheres em situação de violência. O evento será realizado no auditório do HRC e contará com a participação de representantes dos principais equipamentos de assistência às mulheres vítimas de violência da região do Cariri.
Acolher e orientar
Mulheres vítimas de violência, seja física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral, nem sempre se sentem confortáveis em expor o caso e pedir ajuda. Por isso, o HRC possui equipe preparada para acolher as vítimas de violência.
Referência em trauma na região do Cariri, no eixo adulto, o HRC possui atendimento voltado para mulheres vítimas de agressão física, com participação de equipe multiprofissional, formada por enfermeiros, técnico de enfermagem, cirurgião bucomaxilofacial, médicos, psicóloga e assistente social.
Para a Coordenadora do Serviço Social do HRC, Amanda Séfora, no processo de enfrentamento da violência contra mulher, se faz necessário criar um ambiente acolhedor e humanizado, assim como, orientá-las quanto aos seus direitos. “Nem todas confessam que foram vítimas de violência. Em algumas ocasiões, elas relatam que foram vítimas de um acidente ou queda, por exemplo. Geralmente, fazem isso por vergonha ou medo do seu agressor”, comentou.
A profissional ressalta que a equipe multiprofissional têm um olhar sensível para reconhecer quando a lesão não é compatível com o relato da vítima. Nesses casos, a equipe comunica ao Serviço Social que realiza acolhida, no próprio leito ou em sala privativa, para tentar investigar se realmente a mulher sofreu agressão, mesmo que ela omita a informação.
Desde 2003 a notificação dos casos de violência contra a mulher atendidas nos serviços de saúde é obrigatória no Brasil. Em março de 2020, entrou em vigor a Lei Federal 13.931, que altera a legislação anterior e estabelece que nos casos em que há indícios ou confirmação da violência as autoridades policiais devem ser obrigatoriamente comunicadas em 24h.
“Mesmo que a mulher não confirme, mas se tenha a suspeita de agressão, é necessário realizar a notificação. A partir dela, determinamos as características das situações de violência e estabelecemos medidas prioritárias. Vale ressaltar que cada caso de uma violência, seja física, psicológica, sexual, é avaliado e acolhido de acordo com suas especificidades”, explicou Séfora.
É importante ressaltar que todas as informações prestadas pela paciente ou familiares são mantidas em sigilo. Apenas em situações em que há riscos para a vítima ou familiares é que as identidades devem ser repassadas à polícia, conforme a Lei e a portaria do Ministério da Saúde. Nesse caso, deve haver conhecimento prévio da paciente ou do seu responsável.
Além do atendimento hospitalar, o Serviço Social do HRC realiza encaminhamento das mulheres aos Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) dos municípios onde a paciente reside, se assim for a vontade delas.