O aumento do preço do aluguel com o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) acumulando variação superior a 30% em um ano e as menores taxas para financiamento imobiliário levaram muitos cearenses a realizarem o sonho da casa própria.
De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), 11.992 imóveis foram financiados entre janeiro e setembro deste ano. O número é 155% maior que o registrado em igual período do ano passado, quando foram financiadas 4.696 unidades habitacionais.
Com relação a valores, já foram financiados mais de R$ 2,5 bilhões em 2021, mais que o dobro dos cerca de R$ 1,19 bilhão em 2020. Apesar dos números positivos até o momento e de a procura ainda não ter baixado, o ritmo não deve continuar no ano que vem.
O aumento da Selic – taxa básica de juros – deve desacelerar os financiamentos imobiliários por tornar mais caro o custo do crédito. Além disso, instabilidades no mercado preocupam as incorporadoras e construtoras.
JUROS BAIXOS
O mercado imobiliário cearense passou por um período de crise entre 2015 e 2019 e encontrou oportunidade de voltar a crescer na pandemia. No ano passado, a taxa básica de juros chegou ao menor patamar histórico, em 2% ao ano. Isso baixou os juros imobiliários e incentivou o consumo.
“A Selic estava muito baixa, em 2%, e hoje ainda não está como há 3 anos, as taxas de financiamento ainda estão atrativas. As pessoas aproveitaram os estoques das construtoras, os estoques do ano passado e esse ano baixaram bastante. Aí você consegue enxergar a alta nos financiamentos imobiliários”, resume o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Ribeiro.
Ele explica que essa maior procura ajudou a movimentar todo o mercado, ajudando inclusive na geração de emprego. A meta era fechar 2021 com 10 mil novos postos de trabalho, mas, segundo Patriolino, essa previsão deve ser revista para cima.
Com dinheiro entrando nas empresas, lançamentos que haviam sido postergados em razão da pandemia foram retomados. Porém, o setor se preocupa com o atual cenário econômico e político, que pode tornar a situação menos favorável.
“Esses últimos 40 dias na economia têm deixado a gente pensativo. Tem algumas pessoas cautelosas aguardando como ficará. Todo mundo tem projetos na prancheta, estamos aguardando”, destaca.
ALTA DO ALUGUEL
De acordo com o corretor da Felippe Araújo Imóveis, Natanael Bandeira, que atua no mercado há 4 anos, um dos fatores mais pontuados pelos clientes na hora da busca do imóvel próprio é o aumento no preço do aluguel.
O IGP-M, que ajusta grande parte dos contratos de aluguel, acumula alta de 24,86% nos últimos 12 meses contados até setembro.
“Antes da pandemia a gente fechava 1 ou 2 [financiamentos] no mês, eram poucas visitas marcadas semanalmente. Hoje a semana é muito corrida. Se eu tinha 20 visitas por mês aumentou para 40, 50”, ilustra.
O supervisor de vendas Hernandes Moreira (26) foi um dos clientes de Natanael que quis fugir do aluguel e preferiu investir em um primeiro imóvel. Ele deverá receber em novembro as chaves para seu primeiro apartamento, em Eusébio, Região Metropolitana de Fortaleza.
“Eu nunca gostei de aluguel porque aluguel você está pagando para os outros, é muito melhor financiar algo que é seu. Fora que o aluguel hoje está muito caro mesmo”, coloca.
Natanael afirma que grande parte da procura tem partido de pessoas buscando o primeiro imóvel e que os espaços preferidos são casas e apartamentos maiores, um reflexo das necessidades maiores de estar na própria residência em razão da pandemia.