Encerra-se neste sábado, 31 de dezembro de 2022, a primeira gestão de uma mulher na história do Governo do Ceará. Após nove meses, a governadora Izolda Cela (sem partido) deixa o Executivo estadual para dar lugar ao governo de Elmano de Freitas (PT) e para atuar, em Brasília, como secretaria-executiva do Ministério da Educação. Se já era celebrada como referência na educação pública, Izolda agora tem seu nome na história do Ceará e pode seguir abrindo caminhos.
Em conversa exclusiva, Izolda deixa uma reflexão sobre seu papel na política cearense, especialmente como primeira mulher a ocupar o mais alto cargo político do Estado.
“A política ainda é um dos ambientes, um dos espaços mais sensíveis para a mulher, para a presença da mulher, isso eu acho que é verdade”
IZOLDA CELA
Primeira mulher governadora do Ceará
Não foi um ano fácil, mas, sem dúvidas, a Izolda que se despede de 2022 é diferente da que começará 2023. Ela assumiu o Governo em abril, fortaleceu-se como pré-candidata à reeleição, esteve no centro do racha histórico entre PT e PDT no Ceará, deixou o partido que a preteriu na disputa pelo Governo do Estado, foi alvo de ataques na campanha eleitoral, fez parte da mobilização pró-Lula no Ceará, foi nacionalmente apontada como nome favorito para o Ministério da Educação e, se não será a própria a atuar como cabeça do MEC, passa a ser a número 2 a comandar uma das principais pastas do futuro governo.
Cinco meses depois do racha entre PT e PDT no Ceará, que, dentre outras alterações no cenário político, retirou de Izolda a chance de tentar uma reeleição, como ela enxerga o episódio?
“Eu não tendo a ver as coisas muito como unilaterais. ‘Só porque é mulher’, ‘As mulheres não têm espaço’, não vejo as coisas de forma muito unilateral, tem nuances”, diz Izolda.
Para se fazer mais clara, ela cita como, nos últimos anos em que compôs a gestão estadual, outras mulheres foram alçadas ao poder em áreas estratégicas do governo.
“Não é por acaso: a primeira mulher governadora, a primeira secretária da Fazenda, a primeira PGE (procuradora-geral do Estado)… Isso dá um dado que é significativo”, pontua.
Grande ponto de discussão sobre o episódio do PDT, Izolda não avalia a situação como violência política de gênero, como muitos e muitas apontaram.
Para ela, o que aconteceu no PDT teria acontecido mesmo se fosse outra pessoa. “Eu não acho que toda essa coisa do PDT se encerra nessa questão relacionada a por eu ser mulher. Aí é tornar muito simplista, nesse sentido de terem outros elementos”, diz Izolda.
A MÃE QUE ENSINOU
Izolda Cela tem 62 anos e é natural de Sobral, na Região Norte do Ceará, filha de Maria Helena Cela (1928-2001) e Afonso Walter Magalhães (1916-1969). Se do pai, a governadora herda a vocação política, da mãe, herdou o amor pela educação e a resiliência do feminino.
“Minha mãe era uma feminista raiz, mas não o padrão militante… Já em alguma medida ela era (militante). Ela passou muito isso pra nós e valorizava muito essa coisa do feminino, de ser mulher, do direito, isso aí foi muito importante para mim. Não tenho dificuldades específicas por ser mulher, eu também não vou imitar homem. Na política, não vou para um tipo de disputa que a gente precisa superar. Procuro não me igualar porque acho que a presença da mulher, a presença do feminino, pode ajudar a superar”.
A presença de Izolda no Governo do Ceará levantou questões importantes sobre as mulheres na política e demarcou um espaço caro para as que virão. Se vamos conseguir superar outras barreiras que a tradição do patriarcado impõe, só teremos certeza nas histórias que serão escritas daqui para frente. Ao que sabemos, Izolda seguirá sendo
Fonte: Diário do Nordeste