“Eu já contei 60 feridas, mas estou ótimo. Não há motivos para pânico. Eu não vejo a hora de sair daqui para voltar ao trabalho. Aliás, eu já até trabalhei daqui do hospital.” O relato é do primeiro brasileiro diagnosticado com varíola dos macacos e que está em isolamento no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, desde 6 de junho. Ele pediu para não ser identificado.
“Não estou preocupado em ser visto como o primeiro brasileiro com varíola dos macacos. Quero poder mostrar às pessoas que estou bem, que fui e estou sendo cuidado por excelentes médicos. Que um momento de dor sirva para a ciência brasileira desenvolver proteção a todos. A melhor proteção é a informação verdadeira. Sou a favor da ciência e aceito participar de pesquisas”, afirmou.
O paciente do Emilio Ribas diz que agora está bem e sem dores, mas no começo foi bem diferente. “O pior aconteceu ainda em casa. Tudo aquilo que a gente lê na internet: exaustão, febre, cansaço, dor de cabeça, dor no fundo do olho. É muito forte mesmo.”
O paulistano de 41 anos concedeu a entrevista logo depois de comer e ser medicado com os analgésicos dipirona e tramadol.
“Não tenho febre, só tomo remédio para dor e estou comendo normalmente. Tenho 60 feridas. Sem analgésicos, elas, principalmente, as que estão na mucosa, como boca e garganta, doem muito. Mas a maior dor mesmo foi nos gânglios, que estavam inchados.”
Os primeiros sintomas, como cansaço, dor no corpo e algumas coceiras, surgiram ainda no final de maio, dias depois de ele chegar ao Brasil de uma viagem à Europa que fez com a mãe e que durou oito dias. A mãe está bem, sendo monitorada, assim como todas as pessoas que tiveram contato com o paciente.
“Minha viagem foi por um motivo tão lindo, que era levar minha mãe para conhecer a Europa e comemorar o aniversário dela lá. Ela amou. A doença foi um imprevisto, mas que vai se resolver. Eu não sei se peguei em Lisboa ou Barcelona. Eu pensei que era Covid ou amigdalite. Já estava até isolado. Cheguei até a fazer exame de Covid. Aí meu médico pediu para eu vir para o Emílio Ribas”, relata.
Contou que ainda não sabe quando terá alta, pois é preciso aguardar que as feridas cicatrizem, mas primeira coisa que ele quer fazer quando sair do hospital é ver a mãe e os gatos. Depois, voltar aos projetos do trabalho e aos planos de vida.
“Quero muito que as pessoas entendam que é uma doença que precisa de cuidados como outra qualquer. Que pode ser pega como um sarampo ou catapora. Homens e mulheres. Que todas as ações que aprendemos com a Covid são muito úteis para todas as doenças. Eu estou me cuidando e espero que as pessoas se protejam também”, finalizou.
Confirmação da doença
O Instituto Adolfo Lutz confirmou na quinta-feira (9) que o paulistano de 41 anos era o primeiro caso de varíola dos macacos no Brasil.
“A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo confirmou o primeiro caso de Monkeypox [varíola dos macacos] no Brasil. A confirmação ocorreu pelo Instituto Adolfo Lutz após realização de diagnóstico diferencial de detecção por RT-PCR do vírus Varicela Zoster (com resultado negativo) e análise metagenômica do material genético, quando então foi identificado o genoma do Monkeypox vírus”, disse a nota da pasta.
Além deste caso, a Prefeitura de São Pauloinformou que monitora o estado de saúde de uma mulher de 26 anos, sem histórico de viagem ao exterior, hospitalizada com suspeita de ter contraído a doença. Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), a paciente passa bem. Familiares e pessoas próximas a ela também estão sendo acompanhados pela gestão municipal.
Em nota divulgada na quarta (8), o Ministério da Saúde informou que oito casos estão em investigação em todo o país. Segundo a pasta, Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo têm um caso suspeito cada um, e há ainda dois casos em monitoramento em Rondônia e outros dois em Santa Catarina.
No domingo (5), a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou ter confirmado 780 casos de varíola de macacos em todo o mundo. Os dados correspondem ao intervalo entre 13 de maio e 2 de junho e leva em conta apenas pacientes identificados em locais em que a doença não é endêmica. Segundo a entidade, não houve mortes relatadas.