Embora tenha recebido alta, a paciente afirmou ter ficado impossibilitada de trabalhar, pois atua no segmento da beleza. Segundo os autos do processo, entre o período após o dia da cirurgia e 29 de outubro de 2021, Monique gastou cerca de R$ 185 mil em remédios, serviços e tratamentos para diminuir os danos da cirurgia.
A modelo pede a devolução do pagamento feito ao hospital, além de indenização pelos danos morais, estéticos e financeiros, dado o tempo sem trabalhar após o ajuizamento da ação. Os valores superam R$ 864 mil.
A paciente também pede o pagamento das despesas necessárias para futura cirurgia reparadora e demais procedimentos estéticos, terapêuticos e psicológicos. “Nem por R$ 1 milhão eu passaria pelo que eu passei, se eu pelo menos sonhasse com isso na minha vida”, afirmou a modelo.
Conforme o portal e-SAJ, do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), uma audiência de conciliação está prevista para o dia 9 de agosto de 2022. No processo, contudo, os advogados indicam que a modelo não tem interesse na realização da audiência. O caso não foi registrado em Boletim de Ocorrência.
Cirurgião-dentista diz que não foi erro
O g1 entrou em contato com o cirurgião-dentista Sormani Bento Queiroz e com o anestesiologista Albert Espíndola de Sá, envolvidos no procedimento, além do Instituto de Estudos e Serviços Odontológicos (Ieso) e o Hospital Uniclinic acerca do caso.
O cirurgião dentista responsável pela cirurgia, disse que ainda não havia constituído advogado no processo e que “estranhou muito a situação”. Com 30 anos de atuação, o profissional afirmou que “logicamente ocorreu um problema”, mas ressaltou que não foi um erro.
Segundo o profissional, ele realizou uma cirurgia ortognática, mas a paciente ficou com um “problema na perna” que “está para ser esclarecido” e que “poderia ser uma infecção”, a qual “não tem relação com o procedimento”. O cirurgião-dentista avaliou, então, esperar que o quadro da modelo se estabilizasse para seguir um tratamento.
Questionado sobre o processo de realização da cirurgia, o cirurgião dentista apontou que solicita exames pré-operatórios antes de uma nova consulta, na qual chega ao diagnóstico e dá orientações aos pacientes. Estes só assinam termo de compromisso quando a operação é realizada em hospital.
Segundo o cirurgião-dentista, ele se colocou “o tempo todo” à disposição da modelo, tendo passado três meses conversando com ela diariamente sobre o assunto e assumido as despesas relativas a medicamentos e cuidados terapêuticos. Questionado sobre quais seriam esses cuidados, ele citou especialista em feridas e fisioterapia e afirmou ter pagado valores diretamente aos profissionais responsáveis pelos serviços.
O cirurgião-dentista informou ainda que não tem consciência dos gastos da paciente e que não recebeu pela cirurgia — o valor foi pago diretamente ao hospital, e ele não recebera honorário. Ele acrescentou, ainda, que apresentará uma proposta em audiência de conciliação.
A proprietária do Ieso, doutora Laura Carvalho, afirma que o instituto “não tem conhecimento sobre o caso e como foi conduzido”, já que o procedimento não foi realizado nas dependências da unidade.
Conforme Laura, o Ieso é um complexo odontológico que faz contratos de aluguel de algumas salas e consultórios com profissionais da área da odontologia. O cirurgião dentista teria uma “relação de aluguel ‘apenas'”.
O g1 também buscou o Hospital Uniclinic por telefone e por e-mail, mas não recebeu retorno. Já o médico anestesiologista, Albert Espíndola, afirmou não ter “muito o que falar” e não ter sido comunicado sobre o processo, descoberto por ele por meio do cirurgião-dentista.
Conforme o médico, a atuação dele se resumiu à de anestesista do procedimento, no qual a anestesia ocorreu “sem intercorrência alguma”. O profissional preferiu não comentar sobre o caso.
O Conselho Regional de Odontologia do Ceará (CRO-CE) afirmou que o cirurgião-dentista pode realizar tal procedimento.
Questionada sobre quais seriam os riscos de uma intervenção desse tipo e do que a cirurgia se trata, a entidade respondeu que “não é um órgão consultivo à sociedade para questões de naturezas técnicas, devendo as demandas éticas serem protocoladas em forma de denúncia”.
Além disso, o CRO-CE também não respondeu qual deveria ser a conduta dos profissionais envolvidos, nem quais os procedimentos adequados para preparo, realização e recuperação da cirurgia.
Ao ser perguntada sobre o que a paciente poderia fazer em relação ao caso, a instituição informou que, “qualquer demanda relacionada a questões éticas no relacionamento do paciente com o profissional, o CRO-CE acolhe a denúncia do paciente”. Esta será analisada e poderá provocar a abertura de um processo ético, que ocorre sob sigilo, segundo a entidade.