O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, desembarcou nesta segunda-feira (21/8) em Joanesburgo, na África do Sul, para a segunda visita ao continente africano de seu terceiro mandato. Ele fica no país até quinta-feira (24/8) para a 15ª Cúpula de Chefes de Estado do BRICS. Depois, Lula irá para Angola e São Tomé e Príncipe antes de retornar ao Brasil.
A agenda do presidente nesta terça-feira (22/8) começa às 11h no horário local (6h no horário de Brasília) com um encontro com representantes do Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), o partido do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa. A legenda governa a África do Sul desde 1994, quando Nelson Mandela se tornou o primeiro presidente negro a ser eleito no país após o Apartheid.
A partir das 12h (7h de Brasília), haverá uma reunião com membros brasileiros do Conselho Empresarial do BRICS. Um pouco mais tarde, às 13h30 (8h30 de Brasília), o presidente Lula participará da edição desta semana do programa “Conversa com o Presidente”, ao vivo de Joanesburgo.
A partir das 16h (11h de Brasília), o presidente participará do Fórum Empresarial do BRICS, evento que contará com uma delegação de cerca de 30 empresários brasileiros que buscam ampliar parcerias com os demais países do bloco – África do Sul, Índia, China e Rússia, além do Brasil.
No fim da tarde, por volta das 18h10 (13h10), acontece o chamado retiro dos líderes, quando os chefes de Estado e governo do BRICS se reúnem por cerca de duas horas em um recinto privado, acompanhados dos seus ministros de Relações Exteriores, para debater os assuntos da cúpula de forma reservada e mais informal.
Além do presidente Lula, participarão do retiro o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, o presidente da China, Xi Jinping, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov. O presidente russo, Vladimir Putin, participará por meio de videoconferência.
A cúpula do BRICS continua com duas reuniões de trabalho na quarta e uma reunião ampliada na quinta. Ainda na quinta-feira (24/8), o presidente Lula segue para Angola, onde fará uma visita oficial até sábado (26/8). No domingo (27/8), ele participa da Cúpula de Chefes de Estado da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em São Tomé e Príncipe antes de retornar ao Brasil.
PARCERIAS
A 15ª Cúpula dos Chefes de Estado do BRICS será a primeira presencial desde o início da pandemia de Covid-19 em 2020. O tema da cúpula será “BRICS e a África: parcerias para um crescimento mutuamente acelerado, desenvolvimento sustentável e multilateralismo inclusivo”.
Foram convidados, além dos chefes de Estado e governo do BRICS, líderes de mais de 40 países, especialmente africanos, mas também da América Latina e Caribe, da Ásia e do Leste Europeu.
Durante a cúpula, serão analisados os pedidos de pelo menos 11 países para compor o grupo (Arábia Saudita, Argélia, Argentina, Bahrein, Bangladesh, Belarus, Egito, Emirados Árabes, Etiópia, Indonésia e Irã). Outras 23 nações também já manifestaram interesse, incluindo Angola, Cuba e México. Qualquer entrada, no entanto, depende de um consenso dos cinco membros atuais.
BRICS
O BRICS é uma parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No total, o grupo representa mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta, 23% do PIB global e 18% do comércio internacional.
O grupo, que não incluía a África do Sul e era chamado apenas de BRIC (termo criado por um analista da Goldman Sachs em artigo sobre economias emergentes em 2001), se reuniu formalmente pela primeira vez às margens da Assembleia Geral da ONU de 2006, em Nova York.
A primeira cúpula do BRIC aconteceu em 2009, na cidade de Ecaterinburgo, na Rússia. Dois anos mais tarde, durante a terceira cúpula, em Sanya (China), a África do Sul passou a fazer parte do bloco.
O diálogo entre os países se dá em três pilares principais: cooperação em política e segurança, cooperação financeira e econômica, e cooperação cultural e pessoal. Cerca de 150 reuniões são realizadas anualmente em torno desses pilares.
O principal objetivo do bloco é alterar, por meio da cooperação, o sistema de governança global, com uma reforma de mecanismos como o Conselho de Segurança da ONU, além de introduzir alternativas a instituições como o FMI e o BID para o fomento às economias emergentes, como é o caso do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês).
EM NÚMEROS
Fazem parte do grupo os dois países mais populosos do mundo, Índia e China, cada um com 1,4 bilhão de habitantes – o Brasil está em sétimo na lista, com 203 milhões, a Rússia em nono, com 143 milhões, e a África do Sul em 25º, com 59 milhões. No total, o BRICS tem uma população de cerca de 3,2 bilhões de pessoas.
Em termos de dimensões territoriais, no grupo estão o maior país do mundo (Rússia, com 17,1 milhões de km²), o terceiro maior (China, 9,6 milhões de km²), o quinto (Brasil, com 8,5 milhões de km²) e o sétimo (Índia, 3,2 milhões de km²). A África do Sul é o 24º na lista, com 1,2 milhão de km².
Em conjunto, os países do BRICS têm um PIB de US$ 24,7 trilhões. Segundo estimativas do Banco Mundial, o PIB da China chegou a US$ 17,7 trilhões em 2022, o segundo maior do mundo. A Índia ficou em sexto, com US$ 3,17 trilhões, seguida pela Rússia em 11º (US$ 1,7 trilhão), pelo Brasil em 12º (US$ 1,6 trilhão) e pela África do Sul em 32º (US$ 419 bilhões).
COMÉRCIO BRASIL-BRICS
O Brasil tem um comércio intenso com os países do BRICS. Em 2022, o volume de transações chegou a US$ 177,7 bilhões, sendo US$ 99,4 bilhões em exportações brasileiras para China, Índia, Rússia e África do Sul e US$ 78 bilhões em importações de produtos vindos desses países. De janeiro a julho de 2023, o volume já atingiu US$ 102,3 bilhões (US$ 63,2 bilhões em exportações e US$ 39 bi em importações).
Principal parceiro comercial do Brasil, a China comprou 90% de toda a exportação brasileira destinada ao BRICS, cerca de US$ 89,4 bilhões. A Índia importou 6,3% (cerca de US$ 6,3 bilhões), a Rússia foi destino de 2% das exportações (US$ 1,96 bilhão) e a África do Sul, de 1,7% (US$ 1,7 bilhão).
No sentido inverso, 78% das importações vindas do bloco foram de produtos chineses (US$ 60,7 bilhões), seguidos dos indianos (11% ou US$ 8,9 bilhões), russos (10%, US$ 7,9 bi) e sul-africanos (1,2% ou US$ 908 milhões).
No ano passado, o produto mais exportado pelo Brasil para o BRICS foi a soja, com 33% do total, seguida por petróleo (18%), ferro (18%) e carne bovina (8,2%). Em contrapartida, os produtos mais importados foram adubos e fertilizantes (10%), válvulas e diodos (8,9%), produtos químicos (7,9%) e produtos de telecomunicação (5,3%).