Cientistas fizeram uma descoberta surpreendente na Chapada do Araripe, região conhecida por seu riquíssimo patrimônio paleontológico. O achado destaca a importância de estudos científicos colaborativos na compreensão da evolução das plantas e sua relação com diferentes regiões do mundo.
Descoberta inédita de uma nova espécie de planta fóssil na Bacia do Araripe revela vínculo surpreendente com a efedra chinesa, uma planta utilizada na medicina tradicional há mais de 5.000 anos. O Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Recursos Naturais, através do Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri e do Laboratório de Biodiversidade do Nordeste, anuncia essa importante descoberta que remonta a 120 milhões de anos.
A pesquisa, publicada no dia 30 de junho no periódico científico internacional Plant Diversity, resultou de uma colaboração entre pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Nanjing Forestry University, da China. Através da análise minuciosa de amostras fósseis coletadas na Formação Crato, na Bacia do Araripe, os cientistas identificaram uma nova espécie de planta fóssil da família Ephedraceae, denominada Arlenea delicata.
Para Alita Ribeiro, estudante de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Biológica e Recursos Naturais da Urca e primeira autora do estudo, “Arlenea delicata é crucial para a compreensão da diversidade de plantas que existiram nessa região durante o período Cretáceo. Essa descoberta amplia nosso conhecimento sobre a história evolutiva das plantas e reforça a necessidade de preservar e valorizar o patrimônio paleontológico da Bacia do Araripe”.
O gênero Arlenea recebeu esse nome em homenagem à renomada botânica e professora da Urca, Maria Arlene Pessoa da Silva, cujo trabalho incansável na pesquisa e proteção da flora da Chapada do Araripe é amplamente reconhecido. O epíteto “delicata” foi escolhido para destacar os delicados ramos que sustentam as estruturas reprodutivas terminais dessa planta fóssil. Os exemplares fósseis utilizados nessa pesquisa estão sob a guarda do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri.
A nova espécie de planta fóssil representa um achado significativo na região da Chapada do Araripe, onde registros geológicos preservaram restos desse exemplar botânico ancestral. Surpreendentemente, os pesquisadores identificaram características semelhantes às da efedra, planta reconhecida por seu uso terapêutico e medicinal na China por milênios.
Para Renan Bantim, pesquisador do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, “vale ressaltar que não apenas existem relações entre a flora da China e da Bacia do Araripe, mas também existem conexões evolutivas entre os pterossauros tapejarídeos nas duas localidades”.
Essa descoberta única oferece dados valiosos sobre a evolução das plantas gimnospermas e seu alcance geográfico no passado distante. “Ela reforça a interconexão histórica entre a região da Chapada do Araripe e a China, revelando evidências de uma possível relação evolutiva entre as espécies de Ephedraceae encontradas em ambos os locais. A presença desse fóssil ressalta a importância de compreendermos a diversidade biológica da flora do passado”, afirma a professora Flaviana Lima, do Centro Acadêmico de Vitória, da Universidade Federal de Pernambuco.
Reconstrução: Júlia D’Oliveira
A nova espécie de planta revela características incomuns, como os envoltórios da semente sustentados por dois pares de brácteas, além de sementes lisas. Essas características adicionam informações cruciais à árvore filogenética, auxiliando na compreensão da evolução das gimnospermas ao longo do tempo.
Além disso, a morfologia geral dessa nova espécie fóssil sugere que suas sementes poderiam ter sido dispersadas por animais voadores, como pterossauros e aves, explicando a ampla distribuição geográfica das Ephedraceae no período Cretáceo Inferior. Esta estrutura das sementes permitiria que elas aderissem ao corpo destes animais voadores, permitindo a dispersão destas plantas por várias localidades e ambientes. Isso explicaria a distribuição cosmopolita das Ephedraceas no Cretáceo Inferior, ocorrendo principalmente na China e extremo sul do Brasil.
A documentação adequada e o estudo detalhado desses fósseis são fundamentais para a conservação desse patrimônio e sua divulgação científica. A nova espécie fóssil, Arlenea delicata, oferece evidências únicas sobre a diversidade que existiu na Região do Cariri há milhões de anos, ampliando o entendimento sobre a história evolutiva das plantas e sua adaptação a diferentes ambientes ao longo do tempo.
O professor Álamo Saraiva, coordenador do Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri, enfatiza a importância desse achado na Bacia do Araripe, afirmando que essa nova descoberta fóssil fortalece ainda mais a relevância da região como um tesouro paleontológico e destaca a necessidade contínua de estudos e preservação.
Estudo
Assinam o artigo Alita M. N. Ribeiro, Yong Yang, Álamo. F. Saraiva, Renan A. M. Bantim, João Calixto Junior, Flaviana J. Lima. Link do artigo