— Caso esse teste se mostre de fato eficaz em detectar todos os tipos, eu poderia, por exemplo, dizer a mulheres que, se o exame deu negativo, que não precisam realizar a mamografia naquele ano. Poderia também aumentar o espaçamento dos exames de imagem — diz a patologista.
O exame funciona a partir da coleta de 5 ml de sangue e a procura de células tumorais circulantes (CTC) na amostra. No entanto, Mônica explica que o método, embora se mostre eficiente, não consegue mostrar onde o tumor está localizado, e por isso não pode substituir por completo as mamografias.
— Essas técnicas são muito sensíveis e conseguem identificar moléculas liberadas pelo câncer no sangue. O problema é que esses exames não apontam onde está localizado exatamente o tumor, então eles têm sido aplicados mais para pacientes que já tiveram a doença e já se recuperaram a fim de monitorar se o câncer reapareceu — explica a especialista.
Para os autores do estudo, a nova técnica é útil para as mulheres que não aderem às recomendações atuais das autoridades de saúde para realizar o exame de imagem a cada dois anos, mas também traz benefícios para as mais jovens.
“Os benefícios potenciais do teste incluem detecção precoce do câncer, especialmente em mulheres assintomáticas que recusam a mamografia de rastreamento recomendada pelas diretrizes, bem como em mulheres assintomáticas para as quais as diretrizes podem não recomendar mamografia de rastreamento de rotina, por exemplo, aquelas com menos de 50 anos de idade”, escreveram os pesquisadores.
Em relação aos exames chegarem ao Brasil, ainda é preciso mais testes e posterior aval da Anvisa. Shcolnik, da Abramed, afirma que o país tem capacidade técnica para incorporar novos métodos, porém o maior desafio será relacionado ao valor do exame, que pode não oferecer um bom custo-benefício.
— Hoje no país nós temos equipamentos tanto na área de diagnóstico por imagem como na área de laboratórios clínicos que são equivalentes aos utilizados em países do primeiro mundo. Então, toda a equipe médica está preparada para lidar com essas novas metodologias. O grande desafio é fazermos uma incorporação respeitando a sustentabilidade do setor, tanto público como privado, de saúde suplementar — diz o especialista.
Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o tipo com maior incidência entre as mulheres, responsável por 29,7% dos diagnósticos. Homens também podem desenvolver o quadro, porém representam apenas 1% de todos os casos.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, houve uma queda de 41% na realização de mamografias de rastreamento em 2020 com a chegada da pandemia de Covid-19. Foram 1,47 milhão de exames no ano, contra 2,5 milhões em 2019. No ano passado, esse número voltou a subir, chegando a 2 milhões, porém ainda distante do índice anterior à pandemia.
Os exames de rastreamento são importantes especialmente pela alta incidência do câncer de mama entre as mulheres. Segundo estimativas mais recentes do Inca, o Brasil tem aproximadamente 66 mil novos diagnósticos a cada ano, enquanto o mundo tem aproximadamente 2,3 milhões.
Embora responda bem ao tratamento quando é diagnosticado de forma precoce, o tumor é também o maior responsável pelas mortes decorrentes de câncer entre as mulheres – 15,5% do total.
Fonte: O Globo