Maior partido do Ceará em número de mandatários, o PDT chegou à campanha eleitoral deste ano dividido. A decisão sobre quem seria o nome escolhido para concorrer ao Governo do Ceará causou acirramento entre os quadros do partidos e acabou gerando repercussão externa, ocasionando o rompimento na aliança governista e com o PT resolvendo lançar nome próprio na disputa estadual – o agora governador eleito, Elmano de Freitas.
Agora, apontam parlamentares eleitos pelo PDT, é o momento de ‘reunificar’ e ‘pacificar’ a legenda. E, para isso, um nome se sobressai como aquele capaz de liderar o processo de reorganização do partido no Ceará: o senador licenciado Cid Gomes (PDT).
Cid esteve ausente durante os embates partidários causados pela disputa interna entre Izolda Cela (sem partido) e Roberto Cláudio (PDT). No retorno, já em setembro, deixou claro que o rompimento entre PT e PDT havia ocorrido “contra a sua vontade” e que iria permanecer neutro durante o primeiro turno da campanha.
Agora, aliados apontam a importância do senador neste momento pós-eleição, enquanto analistas políticos indicam que a habilidade de articulação de Cid pode ser fundamental para a reaproximação entre PT e PDT e para consolidar a legenda pedetista na base do Governo Elmano de Freitas, em 2023.
QUAL PDT SAI DAS URNAS EM 2022?
Em 2022, o partido elegeu um deputado estadual a menos do que na eleição de 2018 para a Assembleia Legislativa do Ceará, saindo de 14 para 13 cadeiras. Na comparação entre as duas eleições para a Câmara Federal, o PDT também diminui um federal: caindo de 6 deputados eleitos há quatro anos, para cinco agora.
Apesar disso, nas duas casas legislativas, manteve o posto de partido que elegeu as maiores bancadas no Ceará – apesar de, na Câmara dos Deputados, dividir a liderança com o PL.
Se, há quatro anos, o PDT elegeu o senador Cid Gomes, agora a candidatura apoiada pelo partido para o Senado Federal, de Érika Amorim (PSD), não teve êxito. E o candidato ao Governo do Ceará, Roberto Cláudio (PDT), ficou apenas na terceira colocação da disputa estadual. Cenário bem diferente de 2018, quando o PDT apoiou a reeleição de Camilo Santana (PT), que venceu com quase 80% dos votos válidos.
Além disso, o candidato a presidente do partido, Ciro Gomes (PDT), saiu, pela primeira vez, derrotado na disputa presidencial no Ceará. O ex-ministro teve apenas 6,8% dos votos válidos no Estado – percentual muito distante dos 40,9% que alcançou em 2018. No Brasil, Ciro ficou na quarta colocação, com 3% dos votos.
A nível nacional, o resultado do partido nas urnas não foi considerado positivo. O PDT não elegeu nenhum governador, enquanto no Legislativo houve um encolhimento da bancada. Em 2018, o partido elegeu 28 deputados federais em todo o País. A bancada, que havia encolhido para 19 em 2022, será de 17 deputados federais a partir de 2023. Além disso, o partido perdeu uma cadeira no Senado Federal.
Na mesma coletiva em que anunciou o apoio do PDT ao ex-presidente Lula (PT) no segundo turno, o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, disse que “esperava muito mais” e que é momento de ver onde “falhou”.
“Se a gente não conseguiu convencer a população a votar na gente, o erro não é da população, o erro é nosso. Nós temos que ter humildade para fazer essa avaliação. Não foi o resultado que esperávamos. (…) Agora estamos refletindo sobre isso, para saber onde erramos e acertar nosso passo”, ressaltou ele na última terça-feira (4).
ACERTO O PASSO E DAR O RUMO
No Ceará, parlamentares eleitos consideram que a reunificação do partido é possível e que as arestas ainda existentes devem ser facilmente aparadas nos próximos dias.
O presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT), afirma que é necessário agora “olhar para frente” e não ficar “remoendo situações” ocasionadas pelo rompimento na base governista, apesar de admitir que a ruptura acabou “nos deixando sem norte”.
“Atrapalhou a todos nós, inclusive nós deputados candidatos ficamos desnorteados com o que aconteceu. Mas vejo que a gente não pode estar olhando para trás, temos que olhar para frente”, ressalta, acrescentando que é momento de “deixar a poeira baixar”.
Evandro Leitão foi um dos pré-candidatos ao Governo do Ceará, mas acabou retirando a candidatura no dia da votação interna do partido que decidiu a candidatura pedetista ao Palácio da Abolição. Na ocasião, ele saiu da reunião mais cedo e afirmou estar “decepcionado” com alguns posicionamentos.
Agora, no entanto, reforça: “não é momento de tensionamento. Precisamos de atuações para amenizar esses problemas”. O sentimento é compartilhado por outros parlamentares entrevistados pelo Diário do Nordeste. Deputado estadual reeleito, Jeová Mota (PDT) considera que as “eleições que se passaram, resolveram os problemas”.
Reeleito para o quinto mandato na Assembleia Legislativa, Sérgio Aguiar não é tão otimista. O parlamentar afirma que “a poeira ainda vai baixar”, mas também considera que serão “superadas essas adversidades, as celeumas que ocorreram durante a eleição” e que o PDT deve sair “unido” no Ceará.
Ele aponta que a divisão dentro do partido “trouxe um prejuízo” para a candidatura de Roberto Cláudio ao Governo, mas que é “chegada a hora de apagar o que ocorreu, reestruturando o partido”.
Indo para o segundo mandato na Câmara dos Deputados, Eduardo Bismarck (PDT) afirma que é possível pacificar, mas que é necessário diálogo. “Porque algumas feridas foram abertas e ambos os lados, há algumas chateações de ambos os lados não vejo que sejam intransponíveis”, ressalta.
BASE GOVERNISTA
A conversa sobre como deve se dar a reorganização do PDT no Ceará após todos os embates internos passa também pela reaproximação do PT – e por uma consequente decisão de integrar a base governista de Elmano de Freitas a partir de janeiro de 2023.
Evandro Leitão afirma que irá “fazer forças” para que essa reaproximação ocorra, reforçando os 16 anos de aliança entre os dois grupos políticos – desde a primeira eleição do ex-governador Cid Gomes, em 2006. “É importante que o PDT seja um braço de apoio para o governador eleito. Vou trabalhar para que isso ocorra”, completa.
Deputado estadual reeleito, Romeu Aldigueri (PDT) considera que foi “uma ruptura momentânea”, causada pelas eleições, mas que o “projeto é um só”. Ele considera, inclusive, que o fato de ter sido uma eleição em primeiro turno ajudará a “serenar os ânimos”.
O parlamentar aproveita para indicar como acredita que será esse movimento de reaproximação: “o nosso líder, senador Cid Gomes irá tomar as rédeas e irá levar o PDT para a base do governo”.
Cid é uma das lideranças citadas por outros parlamentares eleitos como figura central nesse processo de reaproximação. Bismarck aponta que o senador “é uma alternativa sim para construir” e “reassumir o protagonismo”. “Agora, se ele vai assumir ou delegar, é outra questão”, ressalta.
Reeleito para a Assembleia Legislativa, Marcos Sobreira (PDT) aponta Cid e Ciro Gomes como “os maiores líderes” e “fundamentais” no processo pós-eleição do partido. “Eles que vão orientar e dar o rumo do partido. A liderança deles será fundamental”, ressalta.
Apesar disso, o parlamentar considera “prematuro” falar sobre o momento pós-eleição do PDT no Ceará, já que o partido ainda não se reuniu. Presidente do diretório estadual, o deputado federal reeleito André Figueiredo (PDT), disse que ainda deve reunir a bancada eleita para tratar da conjuntura estadual.
Uma primeira reunião ocorreu nesta quarta-feira (5), mas com a bancada de vereadores de Fortaleza. O prefeito José Sarto (PDT) publicou imagem do encontro ao lado de Figueiredo a respeito do posicionamento do PDT a favor da candidatura de Lula para a presidência da República.
QUEM IRÁ LIDERAR A REORGANIZAÇÃO?
A coordenadora do Laboratório de Estudos de Política, Mídia e Eleições (Lepem/UFC), Monalisa Torres, aponta que, nesse momento pós-eleição, será preciso entender qual liderança estará a frente do processo de reorganização do partido após todos os embates durante a campanha eleitoral.
“Vai precisar saber quem de fato será a liderança estadual do PDT que vai conduzir a reorganização do partido. Quem lidera agora esse grupo para que ele possa ter a performance que ele tinha? Quem será a liderança que reunificará o PDT? A partir disso é que podemos ter ideia de como fica o partido no Estado”.
MONALISA SOARES
Coordenadora do Lepem/UFC
Ela lembra a declaração de Roberto Cláudio, no dia seguinte ao primeiro turno, na qual afirmou que estaria “permanentemente vigilante” em relação ao próximo governo, o que poderia indicar, na avaliação dela, “oposição vigilante ao governador eleito, Elmano de Freitas”.
Ela também cita o senador Cid Gomes como importante nesse processo – ressaltando que o PDT é um partido que “tomou tamanho e proporção pela chegada dos Ferreira Gomes”.
“A liderança do Ciro, do ponto de vista de condução do partido, fica comprometida”, afirma a pesquisadora, citando as derrotas das candidaturas presidencial e também para o Governo do Estado. “Isso é algo a refletir sobre as escolhas que o Ciro conduziu”.
“Para o partido seria melhor que o senador Cid reaparecesse. (…) Retomar esse papel dele de articular o grupo, apontar um sentido, porque ele é a liderança do partido que mais tem condição de fazer isso”, ressalta. “Talvez ele precise ser o ‘cupido’ dentro do próprio partido”.
Para o sociólogo Jonael Pontes, o ex-governador será importante no processo de aproximação da base governista, como uma figura de “consenso para essas duas forças políticas”.
“Inclusive, acho que esse aparente sumiço dele foi calculado, ele não quis se envolver nesse racha. (…) Ele tem muito capital político, acho que vai ser o nome que vai tentar articular os grupos que sobraram”.
JONAEL PONTES
Sociólogo
Pontes lembrou ainda a proximidade entre o senador eleito Camilo Santana (PT) e Cid, além das sinalizações feitas por Elmano de que quer contar com o PDT na base do Hoverno. “Embora eu acredite que esse racha quem saiu perdendo foi o PDT, (…) dentro do panorama o PDT não perde tanto protagonismo”, projeta.
Fonte: Diário do Nordeste