Inovação e sustentabilidade. Um novo ativo esfoliante desenvolvido por pesquisadoras da Universidade Federal do Ceará (UFC) é uma aposta para o tratamento de melasma a partir da cera da carnaúba, planta típica da caatinga cearense. Neste ano, a UFC recebeu a carta patente do composto pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
Além da cera, o ativo contém ácido kójico na composição, clareador já conhecido no mercado para melhora de manchas e uniformização do tom da pele. O composto já está pronto para ser comercializado e agora as pesquisadoras estão em busca de indústrias interessadas na produção em larga escala.
A professora do curso de Farmácia da UFC e uma das responsáveis pela pesquisa, Tamara Gonçalves, explica que a ideia do projeto era desenvolver um ativo esfoliante que substituísse os microplásticos, agentes poluentes. Assim, após inúmeros testes com insumos vegetais, as pesquisadoras conseguiram produzir, da cera da carnaúba, as microesferas.
“Nas nossas pesquisas, tentamos sempre trazer compostos que não tragam danos ao meio ambiente, aí veio a ideia de trabalhar com um material mais rígido. Depois de muitos testes descobrimos que era possível fazer microesferas com a cera de carnaúba”, explica a professora.
ATIVO MULTIFUNCIONAL
Durante os estudos, que iniciaram em 2016, Tamara e as outras pesquisadoras, Larissa Coelho Costa, Bianca de Oliveira Louchard e Teresa Maria de Jesus Ponte Carvalho, descobriram que seria possível encapsular ativos nas microesferas.
“A gente pensou no ativo clareador, porque aí você tem a função esfoliante da cera de carnaúba e, nessa ação da fricção na pele, você aciona o gatilho do que tá dentro da microesfera, que é o ácido kójico. Na esfoliação, você elimina as células mortas e favorece a penetração de ativos e com o ácido a gente consegue o clareamento de manchas”.
TAMARA GONÇALVES
professora da UFC
O invento, contudo, não se trata de um produto dermatológico em si, mas de um ativo cosmético multifuncional que pode ser adicionado em outras formulações. Por isso, de acordo com a professora, pode ser usado em diversos veículos, como sabonete, sérum, creme.
“Nosso teste foi em sabonete, mas pode ser em qualquer veículo, já que a cera de carnaúba é compatível com muitos insumos então não teria problema de estabilidade”, pontua a pesquisadora.
COMO E QUEM PODE USAR
Embora tenha uma textura bem suave, a professora orienta que o uso por pessoas de pele sensível seja feito com cautela a partir de prescrição médica ou teste de contato para veriicar a tolerância. “Acredito que peles normais e oleosas vão ser bastante beneficiadas desse composto”.
Entre os benefícios, a pesquisadora cita a ação clareadora, uniformização do tom, esfoliação, limpeza mais profunda e gentil, além renovação celular porque a pele entende que tem que mandar células novas após a esfoliação.
“É um insumo cosmético seguro pra uso, ambos compostos já são utilizados no mercado de forma segura, o que eu fiz foi juntar os dois. É um ativo multifuncional e solução pra evitar o uso de microplásticos”, acrescenta.
Já quanto ao uso, Tamara orienta que seja sempre feito com acompanhamento de um dermatologista que conheça o tipo de pele do paciente, as tolerâncias e os produtos possíveis de serem utilizados. “A ação clareadora vai depender muito do tipo de melasma que o paciente apresenta”.
PESQUISAS EM ANDAMENTO
Dentro do Laboratório de Produção de Cosméticos (LABCOS) da UFC, alguns ativos estão sendo desenvolvidos e outros já estão prontos. Tamara explica que o foco maior nesses projetos é trabalhar com insumos vegetais, mais voltados para a caatinga ou vegetações típicas do Ceará. “Penso nos insumos e vejo como podemos aplicar em tratamentos, seja melasma, acne”.
Atualmente, a pesquisadora está debruçada em um produto cosmético específico para pacientes em tratamento de radioterapia, de modo a prevenir queimaduras e melhorando a qualidade de vida dessas pesosoas.
Desenvolvido pela aluna do Doutorado Érika Diógenes e orientado por Tamara, outro projeto é um sérum facial feito com extrato de aroeira para clareamento de manchas e rejuvenescimento da pele. “Vamos começar agora o ensaio clínico em fevereiro, mas quem testou já obteve resultados excelentes. Já entramos com solicitação de patente”, afirma Tamara.
Fonte: Diário do Nordeste