O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1% no 1º trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, conforme divulgado nesta quinta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Frente ao mesmo trimestre de 2021, o avanço foi de 1,7%. Em valores correntes, o PIB chegou a R$ 2,249 trilhões.
Trata-se do terceiro resultado positivo seguido, depois do recuo registrado no segundo trimestre de 2021 (-0,2%). O avanço, porém foi menor que o alcançado no 1° trimestre do ano passado (1,1%) frente ao 4º trimestre de 2020.
O resultado representa uma aceleração frente aos trimestre anteriores, impulsionada pelo setor de serviços – o mais impactado pela pandemia e de maior peso na economia –, que ainda tem encontrado espaço para recuperar o nível de atividade pré-Covid, apesar dos impactos da inflação e dos juros altos.
De acordo com o IBGE, com esse resultado, o PIB está 1,6% acima do patamar do quatro trimestre de 2019, período pré-pandemia, e 1,7% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica do país, registrado no primeiro trimestre de 2014, o que equivale ao patamar observado em meados de 2013.
“Isso significa que a gente mais que superou a retração que teve com a pandemia, mas ainda não foi suficiente para recuperar o patamar anterior à crise de 2016”, destacou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
O avanço veio dentro do esperado pelos analistas. Mediana de pesquisa do jornal “Valor Econômico” com 82 instituições financeiras e consultorias projetava uma alta de 1% para o PIB do 1º trimestre, em relação ao 4º trimestre de 2021.
Revisão de dados
O IBGE revisou os dados trimestrais de 2021. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, a alta do PIB nos 3 primeiros meses do ano passado foi de 1,1%, diferente do crescimento de 1,4% divulgado anteriormente.
Já a queda registrada no segundo trimestre foi revisada de -0,3% para -0,2%. No terceiro trimestre, houve crescimento de 0,1,% em vez de queda de 0,1%. Já a alta do 4º trimestre passou de 0,5% para 0,7%.
No acumulado em quatro trimestres, o PIB cresceu 4,7%, comparado aos quatro trimestres imediatamente anteriores.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e é o principal indicador usado para medir a evolução da economia .
Principais destaques do PIB do 1º trimestre:
- Serviços: 1%
- Indústria: 0,1%
- Agropecuária: -0,9%
- Consumo das famílias: 0,7%
- Consumo do governo: 0,1%
- Investimentos: -3,5%
- Exportações: 5%
- Importação: -4,6%
Inflação freia crescimento
Principal destaque do PIB no primeiro trimestre de 2022, o setor de serviços – o de maior peso na economia brasileira – foi beneficiado pelo aumento no consumo das famílias, que cresceu tanto na comparação com o 4º trimestre (0,7%) quanto em relação ao 1º trimestre de 2021 (2,2%). Mas esse crescimento poderia ter sido ainda maior, não fosse a inflação tão alta.
“A gente só não tem como calcular quão maior esse consumo poderia ter sido sem o impacto da inflação”, enfatizou a gerente da pesquisa Rebeca Pallis.
Esse desempenho do consumo das famílias se deve, segundo a pesquisadora, ao comportamento do mercado de trabalho, que vem “andando de lado”.
“A gente tem um crescimento importante da ocupação, mas com os rendimentos reais em queda. O consumo das famílias é muito direcionado pela massa salarial, que por sua vez é muito influenciada pela inflação”, enfatizou.
Rebeca apontou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação no país, acumulado em 12 meses ficou 10,7% acima do registrado no primeiro trimestre de 2021. Associada à inflação, a taxa básica de juros passou de 2% para 10,1% ao ano.
Análise setorial
Entre os grandes setores, houve queda na agropecuária (-0,9%), variação perto da estabilidade na indústria (0,1%) e elevação dos serviços (1%).
Pela ótica da despesa, a o consumo das famílias cresceu 0,7%, o consumo do governo teve variação de 0,1% e os investimentos caíram 3,5%.
O setor de serviços representa 70% do PIB do país. “Dentro dos serviços, o maior crescimento foi de outros serviços, que tiveram alta de 2,2%, no trimestre, e comportam muitas atividades dos serviços prestados às famílias, como alojamento e alimentação. Muitas dessas atividades são presenciais e tiveram demanda reprimida durante a pandemia”, explicou a coordenadora da pesquisa.
Segundo o IBGE, o setor de turismo e viagens também contribuiu para o crescimento dos serviços no 1º trimestre, com avanço no transporte de passageiros, sobretudo o aéreo, além de alojamento e alimentação.
Frente ao primeiro trimestre do ano passado, os serviços avançaram 3,7%, com alta na maior parte de suas atividades, com destaque para “outras atividades” (12,6%), que foram beneficiadas pela reabertura da economia e retomada da demanda por serviços presenciais.
Queda na agropecuária e nas indústrias extrativas
Segundo o IBGE, a queda de 0,9% da agropecuária é explicada principalmente pela estiagem no Sul, que causou a diminuição na estimativa da produção de soja, a maior cultura da lavoura brasileira.
Na indústria, o único desempenho negativo ocorreu nas indústrias extrativas (-3,4%). Houve avanço nas atividades de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (6,6%), indústrias de transformação (1,4%) e construção (0,8%).
Na comparação interanual, o IBGE apontou que o recuo de 8% da agropecuária foi puxado, principalmente, pela queda nas safras da soja (-12,2), do arroz (-8,5%), de fumo (-7,3%) e de mandioca (-2,7%).