Na fronteira oeste da Ucrânia com a Polônia, perto da cidade de Mostyska, as ucranianas Olena e Maria caminham em direção ao seu país após um mês e meio fora. As duas são de Slovyansk, no leste da região de Donetsk.
No dia 10 de março, quando russos se aproximavam da cidade, o marido de Olena pediu que ela deixasse o país com a filha. Olena e Maria foram para a casa de uma amiga na cidade polonesa de Szczecin, na fronteira com a Alemanha.
Mas elas tinham que dormir no chão. E Olena diz que tiveram dificuldade para encontrar emprego porque não falam polonês. Agora, estão voltando ao leste da Ucrânia, apesar da ameaça de novos ataques russos à região. O marido de Olena é motorista de ambulância e permanece em Slovyansk, a espera delas.
Quando perguntamos o que estavam sentindo ao retornar ao seu país, Olena abriu um sorriso. “Muito bem! Independentemente de qualquer coisa, estamos muito felizes de estar de volta à Ucrânia.”
Desde à invasão russa, estima-se que mais de 10 milhões de pessoas tenham deixado suas casas na Ucrânia, e 4,3 milhões delas fugiram do país. Mas conforme as linhas de frente se estabilizam e o país aprende a operar num estado de guerra, alguns ucranianos começam a fazer a jornada de volta à casa, até mesmo a áreas diretamente ameaçadas pelas forças russas.
Outros que conhecemos não chegaram a deixar a Ucrânia. No Arena Lviv, um estádio construído para o torneio de futebol Euro 2021, mas que agora abriga refugiados, conhecemos Roma, um jovem de 19 anos de Mykolaivm, na costa do Mar Negro da Ucrânia, e sua nova amiga Iryna, uma avó de Severodonetsk, na região de Luhansk.
Os dois nunca tinham se conhecido até aquele dia, mas haviam decidido ficar juntos. Iryna cruzou a Ucrânia até a fronteira com a Polônia nos dias seguintes à invasão, com a ideia de fugir da guerra. Depois de ficar numa fila por horas, para cruzar a fronteira, mudou de ideia de última hora.
O filho dela está no Exército da Ucrânia e ela soube que sua cidade havia sido recapturada por forças ucranianas, o que abriu caminho para que voltasse para casa.
“Eu não consegui convencer a mim mesma a deixar (o país)”, disse ela. Mas, desde então, Iryna tem se locomovido pelo oeste da Ucrânia – uma vez dormiu numa creche em Lviv, antes de acabar na Arena Lviv com Roma.
Um ônibus que iria para o interior tinha um lugar livre sobrando mas, apesar das repetidas ofertas, Iryna se recusou a embarcar e decidiu ficar com o novo amigo. Agora, ela e Roma, assim como milhões de outros, enfrentam o futuro incerto de pessoas desabrigadas dentro do próprio país.
Com a opção de ter um status de refugiado no exterior ou viver sem raízes na Ucrânia, não surpreende que alguns estejam arriscando as vidas para retornar às suas casas.
Fonte: G1