Após quase três décadas de uma grande jornada pela recuperação, finalmente o fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus, contrabandeado para a Alemanha na década de 1990, e agora repatriado, fará o caminho de volta ao Cariri, para ser entregue ao Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, da Universidade Regional do Cariri (URCA). O material chegou ao Brasil no último dia 4 e será apresentado hoje em Brasília, durante cerimônia que oficializará a repatriação do fóssil de 110 milhões de anos.
O Ubirajara jubatus é o primeiro dinossauro não-aviário com estruturas semelhantes a penas encontrado na América do Sul. Na segunda-feira (05), foram abertas as caixas para a conferência do material por representantes do MCTI, Ministério das Relações Exteriores, Embaixada da Alemanha no Brasil e a URCA. Retirado do Brasil nos anos 1990, o fóssil estava no Museu Estadual de História Natural Karlsruhe, na Alemanha, e será levado para o Museu de Paleontologia, em Santana do Cariri.
As negociações para a devolução do material envolveram o Itamaraty, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e a Embaixada da Alemanha, em Brasília. O dinossauro brasileiro contrabandeado chegou a Brasília juntamente com uma comitiva do governo alemão em visita oficial ao País.
O atual diretor do Museu de História Natural de Karlsruhe, Norbert Lenz, e seu antecessor, Eberhard Frey, assinam o trabalho científico que descreveu a nova espécie. A repatriação só foi possível depois de determinação de autoridades da região de Baden-Wûrttemberg, em julho do ano passado, que apontaram “má conduta científica” na obtenção do fóssil, conforme denúncia do Ministério Público Federal.
Desde 1942 a legislação brasileira determina que fósseis são patrimônio da União. Por isso, eles não podem ser comercializados. Para que saiam do País, é exigida uma autorização formal. A exportação é totalmente proibida para os exemplares de referência de novas espécies, os holótipos, caso do Ubirajara jubatus. Cientistas estrangeiros só podem coletar materiais biológicos ou minerais em território nacional se incluírem em seu trabalho pesquisadores brasileiros.
#UbirajaraBelongstoBR
O trabalho de descrição do novo dinossauro, publicado na Cretaceous Research, não respeitava a legislação e acabou gerando uma mobilização inédita com a campanha virtual #UbirajaraBelongstoBR (Ubirajara pertence ao Brasil). Com o barulho internacional provocado pela ação, a revista científica logo anunciou a retratação do artigo; ou seja, retirou a publicação do trabalho. Essa ação foi inédita, diante de um problema não relacionado ao contexto científico, mas ético.
“O MCTI não poupou esforços para viabilizar o retorno do Ubirajara. Entretanto, sem a mobilização da comunidade científica brasileira, não seríamos bem-sucedidos. O governo alemão foi sensível ao nosso pleito e, todos juntos, alcançamos essa vitória”, disse o secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, Inácio Arruda.
Para o diretor do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, Allyson Pinheiro, este momento é simbólico para o Brasil. “Simboliza uma nova fase no jeito de fazer ciência com respeito às legislações nacionais e aos direitos das sociedades”, frisou.
Ele destacou a cooperação entre os países, que atendeu à solicitação de repatriação feita pelo governo brasileiro, e o envio do fóssil para o Cariri, de onde foi retirado. Segundo o paleontólogo, o Cariri possui um projeto de desenvolvimento territorial de mudanças das condições socioeconômicas locais através de objetos como o fóssil Ubirajara, que é um patrimônio paleontológico e geológico brasileiro.
Ubirajara jubatus
O fóssil Ubirajara jubatus fará parte do acervo do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, uma vez que pertence à região do Geoparque do Araripe, localizada entre os estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, conhecida como centro paleontológico.
Ubirajara jubatus viveu há 110 milhões de anos, na região da Bacia do Araripe, no interior do Ceará. O dinossauro foi retirado de forma irregular do Brasil para a Alemanha, nos anos 1990, após ser descoberto por pesquisadores estrangeiros no manancial paleontológico.
O fóssil do tamanho de uma galinha e revestido por penas está em duas placas (positiva e negativa) medindo uma placa 47 cm x 46 cm x 4 cm, pesando cerca de 11,5 kg. E a segunda placa mede 47 cm x 46 cm x 3 cm, com peso aproximado de 8,0 kg. (URCA e MCTI).