Em Fortaleza, o perfil médio das vítimas aponta para um problema social que também envolve características raciais e de classe. Além de Fortaleza, existe o Nudem no Cariri e atuação no enfrentamento à violência dentro das Casas da Mulher em oito cidades.
Segundo o levantamento anual elaborado pela equipe psicossocial do Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Nudem) de Fortaleza, 561 vítimas foram atendidas em 2023: 86% das mulheres atendidas eram negras, 46,5% beneficiárias do Bolsa Família e 33% complementam a renda com trabalho informal. A pesquisa tem o objetivo de entender como a violência se manifesta, conhecer o perfil da assistida e pensar políticas públicas.
O percentual em estado civil mostra que a maioria das agressões se dá ainda em relacionamentos conjugais ‘informais’ ou entre namorados e outros parentes. Das vítimas, 56% eram solteiras e 33% casadas.
“A gente tem como objetivo principal oferecer um atendimento humanizado a essas mulheres e por isso é tão importante conhecer nosso público para ofertar os melhores serviços. Primamos por um atendimento acolhedor, no qual se sintam validadas no que falam; que se sintam acolhidas e tenham a certeza de que naquele espaço vão ser ouvidas e acreditadas”, pontua a supervisora do Nudem Fortaleza, defensora pública Jeritza Braga.
A pesquisa revela ainda que 79% das mulheres atendidas pelo Nudem de Fortaleza possuem medida protetiva e presenciaram agressões sofridas pelas mães (32%). Para 62% dos casos, os filhos sofreram ou presenciaram as violências. O dado mostra a transgeracionalidade da violência doméstica. No caso dos agressores, 64% voltaram a cometer as violações após as reconciliações e promessas de melhora.
Para Jeritza Braga, o alto índice de vítimas com medida protetiva significa “que realmente estão acreditando no sistema, pois vão em busca de medidas para se protegerem e realmente entendem a importância e a eficácia que esse instrumento legal oferta para essas mulheres não terem a integridade física e psicológica ainda mais abalada.”
O levantamento também aponta que parte considerável conhece apenas parcialmente a Lei Maria da Penha, principal dispositivo de defesa das mulheres vítimas de violência: 39% acredita que a legislação refere-se somente à agressão física, desconhecendo as demais tipologias de violência (psicológica, moral, patrimonial e sexual).
A principal violência sofrida pelas mulheres é a psicológica, com 88%, seguida de: física (53%), moral (44%), patrimonial (26%) e sexual 12%. Sobre o tempo de violência vivido pela vítima até a realização da denúncia, 35% afirmaram que sofreram violações entre um e cinco anos; 21% entre seis e dez anos; 16% entre 11 e 20 anos; 12% por menos de seis meses e 8,5% durante mais de 21 anos. Dependência emocional, financeira, medo, pressão familiar, aspectos religiosos, vergonha e descrença nos órgãos de proteção são fatores que levam a mulher a demorar a fazer a denúncia.