O Bolsa Família foi decisivo na redução de mais da metade das mortes por tuberculose entre pessoas em situação de extrema pobreza e povos originários. Segundo um estudo publicado na revista Nature Medicine nesta sexta-feira (3), as mortes caíram mais de 50% entre os extremamente pobres e mais de 60% entre populações indígenas.”
O trabalho, conduzido por pesquisadores de instituições como a Universidade Federal da Bahia, a Fiocruz Bahia e o Instituto de Saúde Global de Barcelona, aponta que as melhorias nas condições de vida e alimentação proporcionadas pelo programa foram determinantes para a sobrevivência de pessoas afetadas pela doença.
“Sabemos que o programa melhora o acesso à alimentação, tanto em quantidade quanto em qualidade, o que reduz a insegurança alimentar e a desnutrição — fatores de risco importantes para a tuberculose. Além disso, fortalece as defesas imunológicas e diminui as barreiras ao acesso à assistência médica e ao diagnóstico”, explicou Gabriela Jesus, uma das autoras do estudo, em entrevista à Agência Fiocruz.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores analisaram dados socioeconômicos e étnicos, além de comparar a incidência, mortalidade e letalidade da doença entre pessoas que receberam recursos do programa e aquelas que não foram contempladas.
O estudo também destaca que o Programa Bolsa Família ajudou a reduzir o número de novos casos e mortes por tuberculose no Brasil, com impactos mais significativos entre pessoas em situação de extrema pobreza e indígenas. Coordenado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), em parceria com o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz) e o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), o levantamento analisou dados de 54,5 milhões de brasileiros de baixa renda entre os anos de 2004 e 2015.
Os resultados gerais indicaram uma queda de 41% na incidência e de 31% na mortalidade da doença. Entre os grupos mais vulneráveis, os índices foram ainda mais expressivos: redução de 63% nos novos casos e 65% nas mortes entre indígenas, e de 51% na incidência e 40% na mortalidade entre pessoas em extrema pobreza.
Ao analisar dados da Coorte de 100 Milhões de Brasileiros, os pesquisadores reforçam que as transferências de renda proporcionadas pelo programa podem reduzir barreiras ao acesso à saúde e promover melhorias significativas na qualidade de vida de populações historicamente vulneráveis. Para o coordenador do estudo, Davide Rasella, o Bolsa Família desempenha um papel fundamental no enfrentamento de doenças relacionadas à pobreza, como a tuberculose, e seus efeitos podem servir de modelo para políticas públicas em outros países com altos índices da doença.